“A
luta por soberania alimentar e a construção da agroecologia” foram um
dos temas destaques da programação da V Marcha das Margaridas, na última
terça-feira (11/08). Participaram do espaço de discussão mulheres
rurais de todo o Brasil, reafirmando que a agroecologia só transforma,
de fato, a sociedade, se ela também muda a vida das mulheres e se
posiciona contra as diferentes expressões da violência.
Para
estimular o diálogo entre as diferentes experiências representadas no
espaço, foram exibidos vídeos produzidos pela AS-PTA Agricultura
Familiar e Agroecologia e pelo Polo da Borborema. As desigualdades nas
relações de gênero e as resistências construídas pelas mulheres ganharam
visibilidade a partir dos filmes "Minha vida é no meio do mundo", “A
vida de Margarida” e “Zefinha quer casar”.
Maria
do Céu, moradora de Solânea (PB) e coordenadora executiva do Polo da
Borborema, relembra que, apesar das superações já alcançadas, o
enfrentamento ao machismo e a luta são diários em nome das mulheres que
ainda se encontram oprimidas. “Estamos aqui com o objetivo de lutar cada
vez mais pelos nossos direitos. A gente constrói a agricultura familiar
e traz para essa Marcha a sabedoria das mulheres agricultoras, no
conjunto do trabalho das ações que são feitos nos territórios”.
Vários
depoimentos foram compartilhados pelas agricultoras, que reconheceram
elementos de suas vidas nas cenas dos vídeos. “O que acontece com as
mulheres da Paraíba acontece no mundo inteiro. Nós sabemos que a nossa
história é amargada e que é duro sair de casa, é duro conquistar os
espaços, mas a mulher sabe conquistar. Lá nos confins, onde não tem
informação, as mulheres têm organização. Num grupo de cinco, de seis,
ali a gente começa a se entender e a crescer”, afirma a tocantinense
Francisca, que é quebradeira de coco e guardiã do babaçu.
“Esse
vídeo nos traz várias violências e a reprodução delas. Qual o tipo de
carinho que Margarida tem? Nenhum. Ela não teve na casa dos pais e
também não teve do marido. Ainda hoje é assim, nossos companheiros não
deixam a gente sair de casa porque acham que vamos botar ‘chifre’ neles.
Ora, a mulher sai de casa pra buscar melhorias para a família”,
desabafa uma das agricultoras.
Outra
participante contou, emocionada, o difícil processo que enfrentou para
romper com a violência doméstica que sofria. “Eu só consegui participar
de uma reunião depois que eu apanhei sem saber o porquê e saí de casa
com meus três filhos. Eu nem sabia o que era delegacia e fui denunciar.
Sofri na pele a violência do delegado dizer para eu retirar a queixa,
mas não voltei atrás e fui embora para a casa da minha mãe com meus
filhos. Depois das audiências o meu companheiro me garantiu que mudaria.
Hoje eu passo 10 dias fora de casa e tudo realmente mudou. Não foi
fácil, mas a gente não pode desistir diante das muitas violências que
nós sofremos”.
Ao
final da tarde, houve troca de sementes tradicionais e uma ciranda, na
qual, de mãos dadas, as agricultoras vivificaram a luta de Margarida
Alves pelo fim da violência e reafirmam a força da solidariedade para a
superação do sistema agrícola venenoso e das desigualdades de gênero.
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