quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Agricultoras vivificam a luta de Margarida Alves pelo fim da violência


“A luta por soberania alimentar e a construção da agroecologia” foram um dos temas destaques da programação da V Marcha das Margaridas, na última terça-feira (11/08). Participaram do espaço de discussão mulheres rurais de todo o Brasil, reafirmando que a agroecologia só transforma, de fato, a sociedade, se ela também muda a vida das mulheres e se posiciona contra as diferentes expressões da violência.

Para estimular o diálogo entre as diferentes experiências representadas no espaço, foram exibidos vídeos produzidos pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e pelo Polo da Borborema. As desigualdades nas relações de gênero e as resistências construídas pelas mulheres ganharam visibilidade a partir dos filmes "Minha vida é no meio do mundo", “A vida de Margarida” e “Zefinha quer casar”.

Maria do Céu, moradora de Solânea (PB) e coordenadora executiva do Polo da Borborema, relembra que, apesar das superações já alcançadas, o enfrentamento ao machismo e a luta são diários em nome das mulheres que ainda se encontram oprimidas. “Estamos aqui com o objetivo de lutar cada vez mais pelos nossos direitos. A gente constrói a agricultura familiar e traz para essa Marcha a sabedoria das mulheres agricultoras, no conjunto do trabalho das ações que são feitos nos territórios”.

Vários depoimentos foram compartilhados pelas agricultoras, que reconheceram elementos de suas vidas nas cenas dos vídeos. “O que acontece com as mulheres da Paraíba acontece no mundo inteiro. Nós sabemos que a nossa história é amargada e que é duro sair de casa, é duro conquistar os espaços, mas a mulher sabe conquistar. Lá nos confins, onde não tem informação, as mulheres têm organização. Num grupo de cinco, de seis, ali a gente começa a se entender e a crescer”, afirma a tocantinense Francisca, que é quebradeira de coco e guardiã do babaçu.

“Esse vídeo nos traz várias violências e a reprodução delas. Qual o tipo de carinho que Margarida tem? Nenhum. Ela não teve na casa dos pais e também não teve do marido. Ainda hoje é assim, nossos companheiros não deixam a gente sair de casa porque acham que vamos botar ‘chifre’ neles. Ora, a mulher sai de casa pra buscar melhorias para a família”, desabafa uma das agricultoras.

Outra participante contou, emocionada, o difícil processo que enfrentou para romper com a violência doméstica que sofria. “Eu só consegui participar de uma reunião depois que eu apanhei sem saber o porquê e saí de casa com meus três filhos. Eu nem sabia o que era delegacia e fui denunciar. Sofri na pele a violência do delegado dizer para eu retirar a queixa, mas não voltei atrás e fui embora para a casa da minha mãe com meus filhos. Depois das audiências o meu companheiro me garantiu que mudaria. Hoje eu passo 10 dias fora de casa e tudo realmente mudou. Não foi fácil, mas a gente não pode desistir diante das muitas violências que nós sofremos”.

Ao final da tarde, houve troca de sementes tradicionais e uma ciranda, na qual, de mãos dadas, as agricultoras vivificaram a luta de Margarida Alves pelo fim da violência e reafirmam a força da solidariedade para a superação do sistema agrícola venenoso e das desigualdades de gênero.


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