sábado, 20 de dezembro de 2014

Reunião da comissão metodológica do Mulheres e Agroecologia em Rede acontece no CTA

A equipe do “Mulheres e Agroecologia em Rede” se reuniu para avaliar e planejar a execução das próximas etapas do projeto nas redes parceiras, entre 10 e 12/12. Participaram do espaço coordenadoras, técnicas(os), integrantes e articuladoras do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA), do Grupo de Trabalho Gênero e Agroecologia (GT Gênero), do Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (GT Mulheres da ANA), do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), do Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas (MMZML), da Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia (RMERA) e da Rede de Produtoras Rurais do Nordeste.




O PFFA nas Redes Parceiras

As articuladoras do projeto avaliaram os módulos do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) que aconteceram nas regiões Amazônia, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Os temas “Feminismo e Agroecologia como Projeto de Sociedade”, “Participação e Auto-organização das Mulheres” e “Economia Solidária, Economia Feminista e Políticas Públicas” foram trabalhados ao longo das três etapas de formação.
Beth Cardoso, coordenadora nacional do projeto, aponta que o PFFA teve e está tendo resultados diferentes de acordo com as redes, mas apresenta avanços comuns e significativos a todas as participantes. “O GT Gênero e Agroecologia estava bastante frágil e há muito tempo não tinha um planejamento do que fazer enquanto rede. Antes era restrito a Minas Gerais e extremo Sul da Bahia e agora tem mulheres articuladas no Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro, ampliando e fortalecendo o Grupo de Trabalho. A RMERA também estava passando por um momento de fragilidade e a participação de mulheres de todos os estados da Amazônia no PFFA fortaleceu a RMERA enquanto rede. A Rede de Mulheres Produtoras do Nordeste e o MMC já vinham crescendo e foi interessante introduzir os conteúdos do feminismo e agroecologia, fortalecendo o debate dos temas”.

A coordenadora destaca ainda a importância da parceria com o GT Mulheres da ANA para revigorar o tema da agroecologia nas redes de mulheres. “Por mais que os grupos já estivessem trabalhando a questão da visibilidade e autonomia do trabalho das mulheres, o fortalecimento do tema agroecologia nas redes é o grande ganho geral do projeto. O processo de enraizamento da ANA na vida das mulheres também é notável, porque antes elas participavam de uma forma muito menos próxima, através de organizações ligadas à ANA, mas hoje participam de forma direta, como no Encontro Nacional e Agroecologia (ENA).”
 Além da aproximação dos grupos de mulheres à ANA e da construção de uma sólida identidade de mulheres agroecológicas, a partir do PFFA, os avanços metodológicos são destaques da formação. “Trabalhar com este tema criando e adaptando metodologias da Educação Popular é uma contribuição para diversas outras organizações que têm como desafio trazer as mulheres para o debate da agroecologia e fazer com que a agroecologia consiga compreender o mundo das mulheres, fortalecendo e dando visibilidade e autonomia para as mulheres agroecológicas”, avalia a coordenadora.

O PFG
Os módulos do Programa de Formação em Gestão de Empreendimentos Econômicos de Mulheres (PFG), realizados na Zona da Mata Mineira, também foram avaliados. Participaram do programa mulheres de grupos em diferentes etapas de organização, alguns ainda em fase de planejamento dos trabalhos e outros já consolidados.
Rosana Bahia Lobato, socióloga e técnica da Capina- Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa, rede parceira na capacitação do PFG, explica que a formação parte da prática das mulheres, utilizando uma linguagem próxima à realidade das participantes. “Normalmente a gente trabalha com 5 elementos que fazem parte do nosso trabalho no dia-a-dia: a coordenação; outras linguagens, que são dinâmicas e a tradução dos conteúdos de forma mais lúdica; o registro; avaliação processual e a infraestrutura”, esclarece Rosana.
A agricultora familiar e artesã Maria da Conceição Caetano participou do PFG e percebe mudanças na forma de gerenciar sua produção. “O PFG foi muito importante, porque a gente produzia e vendia vários tipos de artesanatos, achando que estava valendo a pena. Depois da formação, a gente começou a fazer as contas e percebeu que estava tomando prejuízo, porque não sabia fazer os cálculos. Então foi muito bom porque agora a gente traz tudo na ponta do lápis para ver o que pode continuar ou não”.
Em 2015, as redes parceiras iniciarão os módulos do PFG. Rosana Lobato destaca que a metodologia será adaptada para as características de cada região “A gente não pode repetir as mesmas experiências, ir com algo formatado para os lugares. A gente precisa respeitar a cultura de cada local e buscar tirar daquele grupo elementos representativos, porque você tem que falar a fala das pessoas. O desafio é partir da característica local para depois fazer uma integração mais global”.

Conquistas e perspectivas para 2015

O projeto ganhou, ao longo de 2014, prêmios de reconhecimento pelos trabalhos prestados, o que visibiliza e valoriza a participação das mulheres que, às vezes, é relegada a segundo plano dentro das organizações. O “Mulheres e Agroecologia” recebeu dois prêmios Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), nos níveis estadual e nacional e dois prêmios no concurso Margarida Alves. O que fortalece o tema dentro do CTA e nas organizações parceiras do GT Mulheres da ANA neste processo.

 

Segundo Beth Cardoso, o momento é favorável para consolidar outros projetos. “As mulheres que fizeram o PFFA serão beneficiárias de outros programas como o ATER Agroecologia e o Ecoforte e as redes de mulheres vão estar muito mais fortalecidas”. Entre as metas para o próximo ano, estão: o avanço nas metodologias, o trabalho das redes e das publicações, a produção de documentário e de programas de rádios para subsidiar as mulheres.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Participantes do CTA são homenageadas no concurso Margarida Alves

As agricultoras Maria Lúcia de Cristo e Mary Delazzari e a assessora de comunicação do projeto “Mulheres e Agroecologia em Rede”, Angélica Almeida, receberam premiação e menção honrosa na quarta edição do concurso Margarida Alves de Estudos Rurais e Gênero. A solenidade aconteceu no auditório do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), em Brasília, no dia 9 de dezembro.

O prêmio Margarida Alves é uma homenagem a uma importante defensora dos direitos humanos e dirigente sindical assassinada na Paraíba e busca visibilizar e reconhecer o papel das mulheres nas unidades de produção, por meio de experiências científicas, acadêmicas e populares. Nesta edição, a inscrição de trabalhos se deu em três categorias distintas: ensaio inédito, relatos de experiências e memórias.

As memórias “Mulher de Fibra: por vida e profissão” e “Trajetórias das agricultoras em Simonésia, MG: conquistas e desafios” e concorreram com mais de 40 trabalhos ligados ao tema “Mulheres e Agroecologia” no Brasil. Ao todo, 14 foram premiados com recursos e cinco receberam menção honrosa, em reconhecimento à qualidade dos trabalhos. Todas as autoras selecionadas receberam certificado e terão suas experiências publicadas em coletânea no primeiro semestre de 2015.

O Ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, destacou a importância de registrar e divulgar o protagonismo das mulheres na defesa de uma vida saudável e justa no campo, para que outras pessoas conheçam e sejam estimuladas pelas histórias. “Nesta edição, o tema é a agroecologia, uma produção mais próxima à natureza e, portanto, uma produção mais próxima da vida. São as mulheres que dialogam mais e melhor com essa agenda e os trabalhos premiados afirmam a luta pela igualdade de direitos na sociedade brasileira”.


Mary Delazzari emocionou-se diante da conquista e se sentiu “muito feliz e orgulhosa, por ser agricultora familiar e ver o trabalho do grupo de artesãs em Acaiaca-MG sendo reconhecido”. Reconhecimento este potencializado pela atuação do CTA em promover a agroecologia como ciência, prática e movimento, sobretudo, a partir dos trabalhos específicos com agricultoras e grupos produtivos de mulheres. Há 27 anos presente na Zona da Mata de Minas Gerais, o CTA busca contribuir no processo de superação de desigualdades de gênero, no maior acesso das mulheres rurais às políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e na melhoria das condições de vida por meio da autonomia gerada na qualificação da produção agroecológica e da organização econômica de mulheres.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Segundo Módulo do PFFA Sul acontece em Chapecó

As estratégias de superação da violência contra as mulheres foi o tema do segundo Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) da região Sul, que aconteceu no Centro de Formação Maria Rosa, em Chapecó (SC). A formação contou com a presença de aproximadamente 25 agricultoras do Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, entre os dias 02 e 04/12/14.

Durante o encontro, as participantes foram estimuladas a refletir sobre suas realidades e metodologias participativas contribuíram para abordar e discutir as diferentes formas de violências presentes na vida das mulheres. Ivone de Arruda, professora aposentada e integrante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) de Aquidauana (MS), aponta a necessidade da desnaturalização das situações de opressão: “Nós começamos a nos questionar, a nos olhar enquanto mulheres e a desmistificar muitas situações. Eu vivo numa região altamente machista, que divide o que é de homem e o que é de mulher. E a gente vai, aos poucos, tentando transformar as situações que são colocadas pela sociedade”.
Transmissão de vídeos, montagem de rádio comunitária, visita de intercâmbio e conversa sobre a Caderneta Agroecológica também fizeram parte da programação do segundo PFFA. Por meio dos mapas da divisão sexual do trabalho, foi analisado como a educação machista e patriarcal provoca violências comuns a todas as mulheres, afetando a autonomia das agricultoras nas unidades de produção. A solidariedade e a auto-organização feminina ganharam destaque como ferramentas de enfrentamento das dificuldades compartilhadas, por meio dos movimentos de mulheres, grupos de produção e da organização de mulheres em organizações mistas.

Catiane Cinelli, da direção do MMC, avalia que, durante o encontro, as participantes se sentiram seguras e confiantes para falarem também das violências que sofrem ou de pessoas muito próximas: “Companheiras falaram de casos de violência muito íntimos e, quando você expõe para o grupo, já é uma forma de se libertar da violência. A violência fica em nós, causa um medo muito grande e não temos coragem de falar. No momento que a gente consegue se abrir, em algum espaço que se sente respeitado, a gente consegue se libertar. Ao mesmo tempo em que a gente fez a discussão, a gente foi vivenciando a superação no coletivo”.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Mulher de Fibra


Pernas trêmulas, coração disparado, um pensamento único povoando a cabeça e até tirando o sono... Não, não é paixão. O que se passa com a Mary Delazzari, a Mary de Acaiaca, é um misto de emoções diante do seu primeiro voo. Se ida a Brasília por si só seria suficiente para aflorar a sensibilidade da agricultora, tanto mais diante de um motivo tão especial: ser homenageada na quarta edição do concurso Margarida Alves.

Mary aceitou o nosso convite de ser entrevistada, em agosto deste ano, para participarmos da categoria “Memórias” do concurso que carrega o nome de uma grande dirigente sindical, assassinada por defender o direito de mulheres e homens do campo. Por meio dos relatos, esta categoria teve como principal proposta fazer lembrança à luta de Margarida, que hoje permanece viva e atuante nas mulheres rurais em busca da emancipação, enfocando as ações que fortalecem a agroecologia.

Tal foi a nossa alegria com o comunicado do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) dizendo que receberíamos uma menção honrosa em reconhecimento da qualidade do trabalho. Satisfação pelos frutos dos serviços desenvolvidos pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata - CTA, primando pela promoção da agroecologia como ciência, prática e movimento; pela pertinência do trabalho específico com mulheres; e, em especial, pela certeza que de, algum modo, pudemos visibilizar e retribuir, um pouco, a generosidade da Mary em nos confidenciar sua história. 

História marcada por sofrimentos e superações e que agora ganha suspiros, inquietações e alguns medos, como o de “andar de avião”, “de chover em pleno voo” e “falar em público”. Medos bastante diferentes dos de alguns anos duros da vida dela: de passar fome, de não conseguir educar os filhos, de não sobreviver sem o marido violento. Graças à esperança e a luta de Mary, potencializada por organizações como o CTA, muitas dessas fobias deram lugar ao espírito de liderança da agricultora, que hoje prossegue contribuindo para que outras mulheres saiam da vulnerabilidade e conquistem autonomia, a partir do grupo produtivo de artesãs em Acaiaca, as “Mulheres de Fibra”.

Miguel Rossetto, Ministro do Desenvolvimento Agrário, entrega menção honrosa à Mary Delazzari e à técnica do CTA, Angélica Almeida.

É dia de compartilharmos a euforia da Mary, de comemorarmos as vitórias pessoais dela, mas de, uma forma também universal, celebrarmos os exemplos das nossas muitas “Margaridas” que permanecem vivas e vivificantes, ante tantas formas de opressão que ainda existem em nossa sociedade. É dia de juntas reafirmarmos que “Sem feminismo não há agroecologia” e que seguimos na busca de relações mais justas para todas e todos. Viva o CTA, viva a Mary, vivam as mulheres!

sábado, 15 de novembro de 2014

Agricultoras finalizam terceiro módulo do PFFA Sudeste

   “Foi muito bom esse processo para nossa vida pessoal e profissional como um todo. As informações que a gente adquiriu nos fazem olhar de uma forma diferente para as situações da nossa vida, ajudam a tirar a venda que temos para enxergar as coisas que estão acontecendo ao nosso lado. Serviu para desconstruir conceitos, preconceitos e reconstruí-los de outra forma.” Este é o relato da agrônoma Denise Perígolo, uma das 30 participantes do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia Sudeste, finalizado nesta quarta-feira (12/11), no Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA).


O último módulo do PFFA teve como eixo central o debate sobre “Economia Solidária, Economia Feminista e Políticas Públicas” e, como nas formações anteriores, contou com a presença de agricultoras e técnicas de organizações de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Extremo Sul da Bahia. Durante os dias 10 e 12 de novembro, diferentes atividades e metodologias participativas fizeram parte da programação do encontro.
O andamento das atividades de multiplicação, encontros promovidos nos municípios das participantes do PFFA entre os módulos de formação, foram compartilhados e foi possível perceber avanços nas abordagens sobre feminismo e agroecologia nas comunidades. “Na primeira oficina de multiplicação, nós utilizamos a metodologia do “Rio da Vida”, uma metodologia que nos faz ir dentro de nós mesmas e encontrar os desafios que tentamos esconder. Eu vi que as mulheres haviam percebido os desafios, mas estavam com medo de expressar os seus sentimentos. Algumas tiveram certa agressividade verbal quando eu jogava elementos para elas fazerem uma autorreflexão. Então, eu saí um pouco receosa diante dos conflitos nas atividades, mas quando fizemos a segunda oficina, as mulheres estavam mais participativas e abertas, querendo se envolver. Eu me senti mais feliz porque é sinal de que tem uma ferida ali em que precisamos mexer para ser cicatrizada”, conta uma das técnicas.
Muita criatividade e desenvoltura foram usadas para retratar, por meio da arte, questões sérias ligadas à vida das mulheres. Com a rádio “Prosa Boa” foi possível discutir a importância da Caderneta Agroecológica para a autonomia das agricultoras, e, a partir do ‘Teatro do Oprimido”, situações cotidianas e naturalizadas de violências contra a mulher foram expressadas, por exemplo.  Além do auxílio de documentários e filmes abordando a desvalorização do trabalho feminino.
A importância da auto-organização foi discutida com a apresentação do vídeo do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que contou com ampla participação das mulheres na defesa do lema : “Sem Feminismo não há Agroecologia”. Além disso, foram apresentados outros espaços representativos de mulheres, como os Grupos de Trabalhos Gênero e Agroecologia, Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia e Mulheres das Articulações Estaduais.
         A formatura das participantes foi celebrada com muita dança, música e poesia. O grupo de estudos corporais integrais e integrados à agroecologia, Micorrizas, encantou a todas e todos com a sua apresentação. Já as Danças Circulares, facilitadas por Rubens Calegari, trouxeram o resgaste de costumes antigos. “A ciranda nos lembrou do tempo em que a gente era criança. Que bom seria se hoje as músicas de hoje fossem assim”, elogiou a agricultora de Vargem Grande, Cristina dos Santos.  
Foi feita ainda uma dinâmica em que as agricultoras e técnicas recordaram as atividades que aconteceram desde o primeiro módulo, a fim de avaliar o PFFA e criar estratégias para o prosseguimento das atividades nos municípios. Ana Zilda Coutinho, a Ana do Mel, comenta o despertar gerado ao longo das formações: “Eu não tinha ideia do quão grave é o problema das mulheres. A gente sabe que as mulheres passam por violência, mas eu não percebia que era tão sério assim. Fiquei avaliando o que eu ensino para os meus filhos e sei que não é um trabalho que parou, é um trabalho que continua”.
De fato, o trabalho do “Mulheres e Agroecologia em Rede” continua! Na próxima etapa do projeto a nível Sudeste, vão acontecer os módulos do Programa de Formação em Gestão de Empreendimentos Econômicos (PFG), voltados para grupos produtivos de mulheres. O curso busca qualificar empreendimentos econômicos populares e seus assessores, viabilizando a sustentabilidade das iniciativas.


Mulheres e agroecologia em rede
Lucimara Borges Silva França 

Mulheres firmes e fortes
Sensíveis, mas, ao mesmo tempo, guerreiras
Dia e noite na luta
É a linda mulher brasileira

Na roça ou na cidade
Lutando contra o racismo
Fazendo e multiplicando
E entendendo o ser feminismo

Queremos um mundo melhor
Multiplicar nossas sementes
Ocupar nossos espaços,
Espera aí, também somos gente

Produzimos produtos orgânicos,
Lutamos pela igualdade
Estamos levando para as feiras
Um produto de qualidade

A natureza pede socorro
Os rios estão todos secando
Se não acordarmos a tempo,
Vamos acabar nos matando

O curso foi realizado em três módulos,
Aprendendo a principalmente a nos respeitar
Que recepção maravilhosa
A acolhida aqui do CTA

As técnicas vieram somar
As agricultoras experiência e magia
Que bom, aprendemos tanto
A trabalhar a agroecologia

Companheiras do Rio de Janeiro,
Dona Juju só alegria,
sem falar na colega Miralva,
lá do extremo Sul da Bahia

Saudades da Nina e da Lilian,
São feministas humanas
Meus parabéns a dona Vera, 
com a sua horta urbana

Não vamos parar por aqui,
Vamos juntas fortes e firmes
Seguiremos todas em marcha,
Até que todas sejamos livres!

domingo, 9 de novembro de 2014

Reunião do GT Mulheres da ANA acontece no RJ

O Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) se reuniu na Casa de Retiros Regina Coeli, no Rio de Janeiro. Os principais temas pautados foram a avaliação do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), a inserção das mulheres na construção da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), na Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) e na Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Agroecologia.
 A partir do vídeo do III ENA, foi feita uma avaliação sobre a ampla participação das mulheres na construção e durante o encontro, na defesa do lema "Sem feminismo não há agroecologia". Maria Leônia Soares da Silva, do Polo da Borborema de Massaranduba (PB), destacou a importância da auto-organização feminina: "um encontro extremamente importante para a valorização da participação das mulheres neste que é também é importante espaço de construção de políticas públicas”. Um dos atos marcantes do III ENA foi a ocupação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) e a inauguração simbólica da "Embrapa Agroecológica". Durante a reunião do GT foi entregue e lida a carta-resposta da Embrapa em relação ao ato.


As estratégias para garantir os 50% de participação das mulheres na Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Agroecologia e a execução de 30% dos recursos com atividades específicas que ajudem a construir a autonomia das mulheres também foram discutidas. Cinara Del Arco Sanches, do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), apresentou o trabalho da Rede Ater Nordeste, composta por 13 organizações que, há mais de dez anos, prestam assistência  técnica na região, a fim de qualificar e  acompanhar a transição agroecológica dos territórios de atuação. 
Cinara reforçou a necessidade de desenvolver  instrumentos que aperfeiçoem as análises e visibilizem aquilo que ainda não aparece, no contexto da agricultura familiar e, especialmente da agroecologia na chamada de ATER. "Dentro dessa perspectiva, a gente está trabalhando com um instrumento de caracterização que precisa dar conta de uma leitura, de uma fotografia, da unidade familiar no início da execução do projeto. A finalidade é que, ao longo da chamada, a gente possa ir verificando quais são os avanços e os desafios, para que, ao final dos três anos, se tenha, de fato, um impacto positivo naquela condição de vida”.
Uma das importantes informações que precisam ser evidenciadas nesse  instrumento de caracterização da chamada de ATER se refere  à divisão do trabalho. Cinara destaca que o trabalho da mulher é mais visto quando ela está envolvida na produção, mas existe uma série de outros trabalhos que não são valorizados e valorados e que são imprescindíveis para a sustentação das unidades de produção. "A mulher se envolve em um conjunto de ações que não aparecem como geradoras de renda. Por exemplo, pegar lenha, buscar água, cuidar da saúde, das plantas medicinais, do quintal, da família, das pequenas criações. E é claro que gera, porque a renda não é só monetária". À medida que é incorporada no instrumento de caracterização essa leitura da divisão do trabalho e evidenciadas as desigualdades no campo, pode-se promover análises junto com a família, e gerar condições iguais entre homens e mulheres.
 "Não basta só formar as equipes e as instituições terem essa consciência, que é algo que a gente ainda está muito longe, mas você tem que fazer isso na base, na localidade. A família tem que refletir sobre isso, os homens e as mulheres precisam perceber que existe uma sobrecarga. Porque este é um tipo sério de violência: a sobrecarga. Ainda mais quando é uma sobrecarga que não está explícita, que muito menos é valorizada dentro do ambiente da família. Por isso, a gente está fazendo este esforço e trazendo para dentro do GT Mulheres, dialogando nas organizações, com objetivo de um processo de formação que dê conta de instrumentalizar as organizações para que elas possam fazer esta análise crítica e, de fato, a gente caminhar no sentido da igualdade”. Cinara Del Arco Sanches

As reuniões do GT Mulheres são espaços de auto-organização que fortalecem a participação feminina na construção da agroecologia nas comunidades e também o diálogo com o governo e acesso às políticas públicas. Participaram da reunião cerca de 30 mulheres de diversas organizações do Brasil: Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ), Articulação Paulista de Agroecologia (APA-SP), Articulação no Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), Assentamento Dandara dos Palmares – Camamu (BA), Casa da Mulher do Nordeste, Centro de Pesquisa e Assessoria de Fortaleza (Esplar), Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM), Coletivo Mulher Vida (CMV), Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE MT), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE PE), Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA), Polo da Borborema, Rede de Intercâmbio, Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia (RMERA), Rede Nordeste, Rede ATER Nordeste, Sempre Viva Organização Feminista (SOF), Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR).





terça-feira, 4 de novembro de 2014

Agricultora do “Mulheres e Agroecologia em Rede” é personagem de documentário

Efigênia Tereza Marco, a “Fifi” de Acaiaca-MG, é uma das quatro agricultoras brasileiras escolhidas para um documentário que retrata como a agroecologia tem redefinido o papel da mulher na família. Efigênia foi uma das 13 agricultoras que participaram de uma tese de doutorado feita pela pesquisadora Emma Siliprandi, na Universidade Federal de Brasília (UnB).

Com o objetivo de transformar a tese em uma linguagem acessível a mais pessoas, estão sendo produzidos um livro e um documentário sobre mulheres agroecológicas, a partir de uma parceria firmada entre três universidades: a UnB, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) .

O professor da UFRJ e diretor do projeto, José Roberto Novaes, o fotógrafo Flavio Condé e o cinegrafista Cleisson Vidal fizeram as gravações durante os dias 29 e 30 de outubro e tivemos a oportunidade de acompanhar o registro da história de vida da Fifi. Segundo Beto: “o objetivo e função deste trabalho é aumentar a visibilidade das experiências positivas das lutas das mulheres, e neste processo, mostrar para a mulher que ela ganha maior vitalidade quando se encontra com a agroecologia”.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Reunião preparatória para o terceiro módulo do PFFA Sudeste acontece no CTA

 A equipe do projeto “Mulheres e Agroecologia em Rede” se reuniu na tarde desta terça-feira (28/10) para debater as metodologias do terceiro e último módulo do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) da região Sudeste. O próximo PFFA vai acontecer no Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM), entre 10 e 12 de novembro, e contará com a presença de agricultoras do Rio Doce, Norte e Leste de Minas, Região Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Jequitinhonha, São Paulo, Rio de Janeiro e extremo Sul da Bahia.
Economia Solidária, Economia Feminista e Políticas Públicas” é a temática escolhida para ser aprofundada no terceiro módulo, em continuidade às discussões levantadas sobre “feminismo e agroecologia como projeto de sociedade” e “auto-organização e participação das mulheres”. As dinâmicas de trabalhos estão sendo pensadas para facilitar as abordagens e garantir um maior aproveitamento da formação. 
Quer acompanhar o que aconteceu no módulo anterior, conhecer as metodologias utilizadas e as impressões das participantes? Confira a matéria do segundo PFFA Sudeste:

Agricultoras discutem organização e autonomia das mulheres 

O segundo módulo do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) da região Sudeste aconteceu no Recanto São José, em Belo Horizonte. Participaram da formação aproximadamente 35 mulheres, dentre elas técnicas e agricultoras agroecológicas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e extremo Sul da Bahia.
Várias atividades fizeram parte da metodologia de trabalho do PFFA, que envolveu desde dinâmicas em grupos, até momentos lúdicos e culturais, para a facilitação da troca de conhecimentos. Foram compartilhadas as experiências das Oficinas de Multiplicação e o andamento da Caderneta Agroecológica nas comunidades das participantes. Uma das atividades de multiplicação que aconteceu abordou a temática “gênero, produção e geração de renda”, no município de Turmalina-MG, organizada pelo Centro de Agricultura Familiar Vicente Nica (CAV).  A matéria sobre a atividade se encontra no site da organização.



Os mapas da sociobiodiversidade das propriedades rurais foram aprofundados neste módulo. As participantes foram convidadas a colar adesivos referentes à participação feminina e masculina nos espaços produtivos da família. A agricultora e presidente da Associação “Flores da Terra” de Itahém (BA), Miralva Ferreira, destacou a importância da atividade: “Ficou bem claro que a mulher está à frente dos trabalhos. Os homens concentram-se nas lavouras, mas dentro de casa, a gente viu que são poucos que ajudam as companheiras. Foi importante para a gente despertar e começar a fazer mudanças na nossa casa.” A técnica do CAV de Turmalina (MG), Joelma Soares de Souza também comentou sobre o mapa: “Eu acho que a divisão sexual do trabalho ainda é muito forte. A gente percebe que as mulheres estão muito sobrecarregadas, porque as mulheres estão nos espaços ‘ditos’ dos homens, mas os homens não estão inseridos nos espaços ‘ditos’ das mulheres, principalmente nas atividades domésticas. Então traz uma mensagem muito forte para a gente de que é preciso discutir o papel do homem e da mulher na sociedade”.
Foram feitas visitas de intercâmbio em duas experiências agroecológicas urbanas que são assistidas pela Rede de Intercâmbio, de Belo Horizonte, na região conhecida como “Baixo Onça”. As visitas despertaram o interesse das participantes e contribuíram para a troca de conhecimentos entre as agricultoras. Um pouco do que aconteceu pode ser conferido através do Podcast sobre este intercâmbio agroecológico.
O "Cigarras Cantoras", coral composto por mulheres educandas de EJA, Educação de Jovens e Adultos, fez uma belíssima apresentação na noite do segundo dia de formação. Depois da apresentação, houve uma roda de conversa com as participantes, momento no qual se pode conhecer melhor a trajetória do coral e perceber identificações entre as histórias de vida das coralistas e das agricultoras do PFFA. Em seus depoimentos, algumas educandas ressaltaram a importância do coral, frente ao excesso de atividades domésticas atribuído às mulheres. Um pouco da apresentação pode ser vista no vídeo
A construção dos mapas das organizações foi uma metodologia utilizada para verificar em quais espaços e cargos as mulheres estão presentes nas instituições nas quais trabalham. Ilzete Rodrigues de Lima, do Centro Agroecológico Tamanduá (CAT) de Governador Valadares, comenta a importância deste tipo der reflexão: “Neste módulo eu achei interessante a gente estar aprofundando a questão do feminismo. No mapa das instituições verificamos quem está ocupando os cargos mais importantes e também número de participação das mulheres. A maioria dos espaços decisórios ainda está sendo coordenada pelos homens, as mulheres se concentram em cargos administrativos, na secretaria, mas não em coordenações.”
Miriam Nobre, militante da Marcha Mundial de Mulheres, comentou a tensão vivida dentro das organizações quanto ao esforço de estimular e fortalecer processos autônomos para mulheres. “Incomoda demais, nas organizações, as reuniões específicas para as mulheres. Não é só trabalhando em projetos mistos que construiremos nossa autonomia. Precisamos pensar como construímos internamente os processos, como pautamos recursos específicos para as mulheres”.
Germana Platão Rocha, agrônoma e técnica do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA), exemplificou formas naturalizadas de machismo dentro das organizações: “Já é esperado que é a mulher quem vai fazer uma intervenção questionando a presença feminina nas reuniões, porque não é lembrada a pauta sobre a mulher, por parte dos homens. A mulher só é lembrada quando é para ir para a cozinha ou para a limpeza. Quando as mulheres são convidadas, geralmente são escolhidas para sistematizar as informações das reuniões. Fica parecendo que só os homens têm o poder de falar, de representar. As mulheres ficam reprimidas com isso. Por que o homem pode viajar, mas a mulher não pode, em função dos filhos ou porque tem alguma coisa para fazer em casa?”
 Para a superação dos desafios vivenciados pelas mulheres, foram encaminhadas algumas ações a serem continuadas nos municípios das participantes entre os módulos de formação. As estratégias de preparação das oficinas de multiplicação e acompanhamento da Caderneta Agroecológica foram pensadas nos grupos de trabalho e socializadas pelas mulheres.
Quem participou do PFFA voltou para casa com ânimo renovado para avançar na construção de relações mais justas entre homens e mulheres. Maria Aparecida Lopes de Oliveira Passos, do Norte de Minas, ressalta o valor do PFFA para o povo indígena Xacriabá: “Essa formação está sendo muito importante, porque a gente está discutindo sobre o feminismo, sobre a valorização da mulher. Precisa muito desta discussão na minha comunidade. Pela nossa cultura Xacriabá, temos a educação de que só os homens podem falar e podem fazer. A voz da mulher é sempre depois da dos homens. Depois de a gente estudar muito, viajar muito e ter outras experiências com outros povos, muitas já estão convencendo os homens que as mulheres têm direitos iguais, podemos ter voz. Mesmo que eles digam não, nós podemos dizer sim. A gente está cada vez mais adquirindo experiência com outras mulheres e percebendo a importância do trabalho das agricultoras ser reconhecido, trazer de volta uma renda familiar.”
O segundo PFFA Sudeste aconteceu entre 8 e 10 de setembro, como parte das atividades do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede. Mais fotos do módulo podem ser encontradas no álbum da Formação.  O projeto tem apoio da União Européia e conta com a participação de várias organizações que trabalham com mulheres e agroecologia em todo o Brasil, são elas: Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia, Rede de Produtoras Rurais do Nordeste, Movimento de Mulheres Camponesas, GT Gênero e Agroecologia, GT Mulheres da ANA, Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas Gerais e o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM).




quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Fotografia “Alguns passos para o conhecimento” é exposta no México



Uma fotografia de agricultoras de Simonésia, participantes do Projeto Mulheres e Agroecologia da Rede Zona da Mata e Leste de Minas Gerais, foi selecionada para a exposição  "Imagens, Diversidades e Contrastes Latino-Americanos" realizada na Cidade do México, entre 6 e 11 de outubro de 2014. O autor da foto é o jornalista e técnico do Centro de Tecnologias Alternativas (CTA/ZM), Rodrigo Carvalho Gonçalves.
A exposição é uma atividade integrante do IX Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia Rural, que neste ano tem como tema “Sociedades Rurais Latino-Americanas: diversidades, contrastes e alternativas”. O objetivo do Congresso é debater as realidades territoriais e o destino rural da América Latina, sob a perspectiva da diversidade camponesa, dos povos indígenas e originários, afrodescendentes, pequenos produtores familiares e trabalhadores rurais.
 “Alguns passos para o conhecimento” e outras fotografias do contexto rural da Argentina, Brasil, Colômbia, Guatemala, México e Panamá podem ser conferidas na página da exposição. Maiores informações sobre o Congresso estão acessíveis no site do evento.

http://issuu.com/alasrumexico/docs/folleto