“Foi muito bom esse
processo para nossa vida pessoal e profissional como um todo. As informações
que a gente adquiriu nos fazem olhar de uma forma diferente para as situações
da nossa vida, ajudam a tirar a venda que temos para enxergar as coisas que
estão acontecendo ao nosso lado. Serviu para desconstruir conceitos,
preconceitos e reconstruí-los de outra forma.” Este é o relato da agrônoma
Denise Perígolo, uma das 30 participantes do Programa de Formação Feminismo e
Agroecologia Sudeste, finalizado nesta quarta-feira (12/11), no Centro de
Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA).
O último módulo do
PFFA teve como eixo central o debate sobre “Economia Solidária, Economia
Feminista e Políticas Públicas” e, como nas formações anteriores, contou com a
presença de agricultoras e técnicas de organizações de Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo e Extremo Sul da Bahia. Durante os dias 10 e 12 de novembro,
diferentes atividades e metodologias participativas fizeram parte da
programação do encontro.
O andamento das
atividades de multiplicação, encontros promovidos nos municípios das
participantes do PFFA entre os módulos de formação, foram compartilhados e foi
possível perceber avanços nas abordagens sobre feminismo e agroecologia nas
comunidades. “Na primeira oficina de multiplicação, nós utilizamos a
metodologia do “Rio da Vida”, uma metodologia que nos faz ir dentro de nós
mesmas e encontrar os desafios que tentamos esconder. Eu vi que as mulheres
haviam percebido os desafios, mas estavam com medo de expressar os seus
sentimentos. Algumas tiveram certa agressividade verbal quando eu jogava
elementos para elas fazerem uma autorreflexão. Então, eu saí um pouco receosa
diante dos conflitos nas atividades, mas quando fizemos a segunda oficina, as
mulheres estavam mais participativas e abertas, querendo se envolver. Eu me
senti mais feliz porque é sinal de que tem uma ferida ali em que precisamos mexer
para ser cicatrizada”, conta uma das técnicas.
Muita criatividade e
desenvoltura foram usadas para retratar, por meio da arte, questões sérias
ligadas à vida das mulheres. Com a rádio “Prosa Boa” foi possível discutir a
importância da Caderneta Agroecológica para a autonomia das agricultoras, e, a
partir do ‘Teatro do Oprimido”, situações cotidianas e naturalizadas de
violências contra a mulher foram expressadas, por exemplo. Além do
auxílio de documentários e filmes abordando a desvalorização do trabalho
feminino.
A importância da
auto-organização foi discutida com a apresentação do vídeo do III Encontro
Nacional de Agroecologia (ENA), que contou com ampla participação das mulheres
na defesa do lema : “Sem Feminismo não há Agroecologia”. Além disso, foram apresentados
outros espaços representativos de mulheres, como os Grupos de Trabalhos Gênero
e Agroecologia, Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia e Mulheres das
Articulações Estaduais.
A
formatura das participantes foi celebrada com muita dança, música e poesia. O
grupo de estudos corporais integrais e integrados à
agroecologia, Micorrizas, encantou a todas e todos com a sua apresentação. Já
as Danças Circulares, facilitadas por Rubens Calegari, trouxeram o resgaste de
costumes antigos. “A ciranda nos lembrou do tempo em que a
gente era criança. Que bom seria se hoje as músicas de hoje fossem assim”,
elogiou a agricultora de Vargem Grande, Cristina dos Santos.
Foi feita ainda uma
dinâmica em que as agricultoras e técnicas recordaram as atividades que
aconteceram desde o primeiro módulo, a fim de avaliar o PFFA e criar
estratégias para o prosseguimento das atividades nos municípios. Ana Zilda
Coutinho, a Ana do Mel, comenta o despertar gerado ao longo das formações: “Eu
não tinha ideia do quão grave é o problema das mulheres. A gente sabe que as
mulheres passam por violência, mas eu não percebia que era tão sério assim.
Fiquei avaliando o que eu ensino para os meus filhos e sei que não é um
trabalho que parou, é um trabalho que continua”.
De fato, o trabalho do “Mulheres e Agroecologia em Rede” continua! Na
próxima etapa do projeto a nível Sudeste, vão acontecer os módulos do Programa
de Formação em Gestão de Empreendimentos Econômicos (PFG), voltados para grupos
produtivos de mulheres. O curso busca qualificar
empreendimentos econômicos populares e seus assessores, viabilizando a
sustentabilidade das iniciativas.
Mulheres e agroecologia em rede
Lucimara Borges Silva França
Mulheres firmes e fortes
Sensíveis, mas, ao mesmo tempo, guerreiras
Dia e noite na luta
É a linda mulher brasileira
Na roça ou na cidade
Lutando contra o racismo
Fazendo e multiplicando
E entendendo o ser feminismo
Queremos um mundo melhor
Multiplicar nossas sementes
Ocupar nossos espaços,
Espera aí, também somos gente
Produzimos produtos orgânicos,
Lutamos pela igualdade
Estamos levando para as feiras
Um produto de qualidade
A natureza pede socorro
Os rios estão todos secando
Se não acordarmos a tempo,
Vamos acabar nos matando
O curso foi realizado em três módulos,
Aprendendo a principalmente a nos respeitar
Que recepção maravilhosa
A acolhida aqui do CTA
As técnicas vieram somar
As agricultoras experiência e magia
Que bom, aprendemos tanto
A trabalhar a agroecologia
Companheiras do Rio de Janeiro,
Dona Juju só alegria,
sem falar na colega Miralva,
lá do extremo Sul da Bahia
Saudades da Nina e da Lilian,
São feministas humanas
Meus parabéns a dona Vera,
com a sua horta urbana
Não vamos parar por aqui,
Vamos juntas fortes e firmes
Seguiremos todas em marcha,
Até que todas sejamos livres!
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