sábado, 15 de novembro de 2014

Agricultoras finalizam terceiro módulo do PFFA Sudeste

   “Foi muito bom esse processo para nossa vida pessoal e profissional como um todo. As informações que a gente adquiriu nos fazem olhar de uma forma diferente para as situações da nossa vida, ajudam a tirar a venda que temos para enxergar as coisas que estão acontecendo ao nosso lado. Serviu para desconstruir conceitos, preconceitos e reconstruí-los de outra forma.” Este é o relato da agrônoma Denise Perígolo, uma das 30 participantes do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia Sudeste, finalizado nesta quarta-feira (12/11), no Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA).


O último módulo do PFFA teve como eixo central o debate sobre “Economia Solidária, Economia Feminista e Políticas Públicas” e, como nas formações anteriores, contou com a presença de agricultoras e técnicas de organizações de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Extremo Sul da Bahia. Durante os dias 10 e 12 de novembro, diferentes atividades e metodologias participativas fizeram parte da programação do encontro.
O andamento das atividades de multiplicação, encontros promovidos nos municípios das participantes do PFFA entre os módulos de formação, foram compartilhados e foi possível perceber avanços nas abordagens sobre feminismo e agroecologia nas comunidades. “Na primeira oficina de multiplicação, nós utilizamos a metodologia do “Rio da Vida”, uma metodologia que nos faz ir dentro de nós mesmas e encontrar os desafios que tentamos esconder. Eu vi que as mulheres haviam percebido os desafios, mas estavam com medo de expressar os seus sentimentos. Algumas tiveram certa agressividade verbal quando eu jogava elementos para elas fazerem uma autorreflexão. Então, eu saí um pouco receosa diante dos conflitos nas atividades, mas quando fizemos a segunda oficina, as mulheres estavam mais participativas e abertas, querendo se envolver. Eu me senti mais feliz porque é sinal de que tem uma ferida ali em que precisamos mexer para ser cicatrizada”, conta uma das técnicas.
Muita criatividade e desenvoltura foram usadas para retratar, por meio da arte, questões sérias ligadas à vida das mulheres. Com a rádio “Prosa Boa” foi possível discutir a importância da Caderneta Agroecológica para a autonomia das agricultoras, e, a partir do ‘Teatro do Oprimido”, situações cotidianas e naturalizadas de violências contra a mulher foram expressadas, por exemplo.  Além do auxílio de documentários e filmes abordando a desvalorização do trabalho feminino.
A importância da auto-organização foi discutida com a apresentação do vídeo do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que contou com ampla participação das mulheres na defesa do lema : “Sem Feminismo não há Agroecologia”. Além disso, foram apresentados outros espaços representativos de mulheres, como os Grupos de Trabalhos Gênero e Agroecologia, Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia e Mulheres das Articulações Estaduais.
         A formatura das participantes foi celebrada com muita dança, música e poesia. O grupo de estudos corporais integrais e integrados à agroecologia, Micorrizas, encantou a todas e todos com a sua apresentação. Já as Danças Circulares, facilitadas por Rubens Calegari, trouxeram o resgaste de costumes antigos. “A ciranda nos lembrou do tempo em que a gente era criança. Que bom seria se hoje as músicas de hoje fossem assim”, elogiou a agricultora de Vargem Grande, Cristina dos Santos.  
Foi feita ainda uma dinâmica em que as agricultoras e técnicas recordaram as atividades que aconteceram desde o primeiro módulo, a fim de avaliar o PFFA e criar estratégias para o prosseguimento das atividades nos municípios. Ana Zilda Coutinho, a Ana do Mel, comenta o despertar gerado ao longo das formações: “Eu não tinha ideia do quão grave é o problema das mulheres. A gente sabe que as mulheres passam por violência, mas eu não percebia que era tão sério assim. Fiquei avaliando o que eu ensino para os meus filhos e sei que não é um trabalho que parou, é um trabalho que continua”.
De fato, o trabalho do “Mulheres e Agroecologia em Rede” continua! Na próxima etapa do projeto a nível Sudeste, vão acontecer os módulos do Programa de Formação em Gestão de Empreendimentos Econômicos (PFG), voltados para grupos produtivos de mulheres. O curso busca qualificar empreendimentos econômicos populares e seus assessores, viabilizando a sustentabilidade das iniciativas.


Mulheres e agroecologia em rede
Lucimara Borges Silva França 

Mulheres firmes e fortes
Sensíveis, mas, ao mesmo tempo, guerreiras
Dia e noite na luta
É a linda mulher brasileira

Na roça ou na cidade
Lutando contra o racismo
Fazendo e multiplicando
E entendendo o ser feminismo

Queremos um mundo melhor
Multiplicar nossas sementes
Ocupar nossos espaços,
Espera aí, também somos gente

Produzimos produtos orgânicos,
Lutamos pela igualdade
Estamos levando para as feiras
Um produto de qualidade

A natureza pede socorro
Os rios estão todos secando
Se não acordarmos a tempo,
Vamos acabar nos matando

O curso foi realizado em três módulos,
Aprendendo a principalmente a nos respeitar
Que recepção maravilhosa
A acolhida aqui do CTA

As técnicas vieram somar
As agricultoras experiência e magia
Que bom, aprendemos tanto
A trabalhar a agroecologia

Companheiras do Rio de Janeiro,
Dona Juju só alegria,
sem falar na colega Miralva,
lá do extremo Sul da Bahia

Saudades da Nina e da Lilian,
São feministas humanas
Meus parabéns a dona Vera, 
com a sua horta urbana

Não vamos parar por aqui,
Vamos juntas fortes e firmes
Seguiremos todas em marcha,
Até que todas sejamos livres!

Nenhum comentário:

Postar um comentário