O Grupo de Trabalho de Mulheres
da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) se reuniu na
Casa de Retiros Regina Coeli, no Rio de Janeiro. Os principais temas pautados
foram a avaliação do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), a inserção
das mulheres na construção da Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (PNAPO), na Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
(CNAPO) e na Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Agroecologia.
A partir do vídeo do III ENA, foi
feita uma avaliação sobre a ampla participação das mulheres na construção e
durante o encontro, na defesa do lema "Sem feminismo não há
agroecologia". Maria Leônia Soares da Silva, do Polo da Borborema
de Massaranduba (PB), destacou a importância da auto-organização feminina:
"um encontro extremamente importante para a valorização da participação
das mulheres neste que é também é importante espaço de construção de políticas
públicas”. Um dos atos marcantes do III ENA foi a ocupação da Empresa Brasileira de
Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) e a inauguração simbólica da "Embrapa
Agroecológica". Durante a reunião do GT foi entregue e lida a carta-resposta da Embrapa em
relação ao ato.
As estratégias para garantir os 50% de participação das
mulheres na Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Agroecologia e a
execução de 30% dos recursos com atividades específicas que ajudem a construir
a autonomia das mulheres também foram discutidas. Cinara Del Arco Sanches, do Serviço de
Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), apresentou o trabalho da Rede Ater Nordeste,
composta por 13 organizações que, há mais de dez anos, prestam
assistência técnica na região, a fim de qualificar
e acompanhar a transição agroecológica dos territórios de atuação.
Cinara reforçou a necessidade de desenvolver instrumentos que
aperfeiçoem as análises e visibilizem aquilo que ainda não aparece, no contexto
da agricultura familiar e, especialmente da agroecologia na chamada de ATER. "Dentro
dessa perspectiva, a gente está trabalhando com um instrumento de
caracterização que precisa dar conta de uma leitura, de uma fotografia, da
unidade familiar no início da execução do projeto. A finalidade é que, ao longo
da chamada, a gente possa ir verificando quais são os avanços e os desafios,
para que, ao final dos três anos, se tenha, de fato, um impacto positivo
naquela condição de vida”.
Uma
das importantes informações que precisam ser evidenciadas
nesse instrumento de caracterização da chamada de ATER se
refere à divisão do trabalho. Cinara destaca que o trabalho da
mulher é mais visto quando ela está envolvida na produção, mas existe uma série
de outros trabalhos que não são valorizados e valorados e que são
imprescindíveis para a sustentação das unidades de produção. "A mulher se
envolve em um conjunto de ações que não aparecem como geradoras de renda. Por
exemplo, pegar lenha, buscar água, cuidar da saúde, das plantas medicinais, do
quintal, da família, das pequenas criações. E é claro que gera, porque a renda
não é só monetária". À
medida que é incorporada no instrumento de caracterização essa leitura da
divisão do trabalho e evidenciadas as desigualdades no campo, pode-se promover
análises junto com a família, e gerar condições iguais entre homens e mulheres.
"Não basta só formar as equipes e as instituições terem essa consciência, que é algo que a gente ainda está muito longe, mas você tem que fazer isso na base, na localidade. A família tem que refletir sobre isso, os homens e as mulheres precisam perceber que existe uma sobrecarga. Porque este é um tipo sério de violência: a sobrecarga. Ainda mais quando é uma sobrecarga que não está explícita, que muito menos é valorizada dentro do ambiente da família. Por isso, a gente está fazendo este esforço e trazendo para dentro do GT Mulheres, dialogando nas organizações, com objetivo de um processo de formação que dê conta de instrumentalizar as organizações para que elas possam fazer esta análise crítica e, de fato, a gente caminhar no sentido da igualdade”. Cinara Del Arco Sanches
As reuniões do GT Mulheres são espaços de auto-organização que fortalecem a participação feminina na construção da agroecologia nas comunidades e também o diálogo com o governo e acesso às políticas públicas. Participaram da reunião cerca de 30 mulheres de diversas organizações do Brasil: Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ), Articulação Paulista de Agroecologia (APA-SP), Articulação no Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA), Assentamento Dandara dos Palmares – Camamu (BA), Casa da Mulher do Nordeste, Centro de Pesquisa e Assessoria de Fortaleza (Esplar), Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM), Coletivo Mulher Vida (CMV), Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE MT), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE PE), Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA), Polo da Borborema, Rede de Intercâmbio, Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia (RMERA), Rede Nordeste, Rede ATER Nordeste, Sempre Viva Organização Feminista (SOF), Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR).
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