quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Mulher de Fibra


Pernas trêmulas, coração disparado, um pensamento único povoando a cabeça e até tirando o sono... Não, não é paixão. O que se passa com a Mary Delazzari, a Mary de Acaiaca, é um misto de emoções diante do seu primeiro voo. Se ida a Brasília por si só seria suficiente para aflorar a sensibilidade da agricultora, tanto mais diante de um motivo tão especial: ser homenageada na quarta edição do concurso Margarida Alves.

Mary aceitou o nosso convite de ser entrevistada, em agosto deste ano, para participarmos da categoria “Memórias” do concurso que carrega o nome de uma grande dirigente sindical, assassinada por defender o direito de mulheres e homens do campo. Por meio dos relatos, esta categoria teve como principal proposta fazer lembrança à luta de Margarida, que hoje permanece viva e atuante nas mulheres rurais em busca da emancipação, enfocando as ações que fortalecem a agroecologia.

Tal foi a nossa alegria com o comunicado do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) dizendo que receberíamos uma menção honrosa em reconhecimento da qualidade do trabalho. Satisfação pelos frutos dos serviços desenvolvidos pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata - CTA, primando pela promoção da agroecologia como ciência, prática e movimento; pela pertinência do trabalho específico com mulheres; e, em especial, pela certeza que de, algum modo, pudemos visibilizar e retribuir, um pouco, a generosidade da Mary em nos confidenciar sua história. 

História marcada por sofrimentos e superações e que agora ganha suspiros, inquietações e alguns medos, como o de “andar de avião”, “de chover em pleno voo” e “falar em público”. Medos bastante diferentes dos de alguns anos duros da vida dela: de passar fome, de não conseguir educar os filhos, de não sobreviver sem o marido violento. Graças à esperança e a luta de Mary, potencializada por organizações como o CTA, muitas dessas fobias deram lugar ao espírito de liderança da agricultora, que hoje prossegue contribuindo para que outras mulheres saiam da vulnerabilidade e conquistem autonomia, a partir do grupo produtivo de artesãs em Acaiaca, as “Mulheres de Fibra”.

Miguel Rossetto, Ministro do Desenvolvimento Agrário, entrega menção honrosa à Mary Delazzari e à técnica do CTA, Angélica Almeida.

É dia de compartilharmos a euforia da Mary, de comemorarmos as vitórias pessoais dela, mas de, uma forma também universal, celebrarmos os exemplos das nossas muitas “Margaridas” que permanecem vivas e vivificantes, ante tantas formas de opressão que ainda existem em nossa sociedade. É dia de juntas reafirmarmos que “Sem feminismo não há agroecologia” e que seguimos na busca de relações mais justas para todas e todos. Viva o CTA, viva a Mary, vivam as mulheres!

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