terça-feira, 28 de outubro de 2014

Reunião preparatória para o terceiro módulo do PFFA Sudeste acontece no CTA

 A equipe do projeto “Mulheres e Agroecologia em Rede” se reuniu na tarde desta terça-feira (28/10) para debater as metodologias do terceiro e último módulo do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) da região Sudeste. O próximo PFFA vai acontecer no Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM), entre 10 e 12 de novembro, e contará com a presença de agricultoras do Rio Doce, Norte e Leste de Minas, Região Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Jequitinhonha, São Paulo, Rio de Janeiro e extremo Sul da Bahia.
Economia Solidária, Economia Feminista e Políticas Públicas” é a temática escolhida para ser aprofundada no terceiro módulo, em continuidade às discussões levantadas sobre “feminismo e agroecologia como projeto de sociedade” e “auto-organização e participação das mulheres”. As dinâmicas de trabalhos estão sendo pensadas para facilitar as abordagens e garantir um maior aproveitamento da formação. 
Quer acompanhar o que aconteceu no módulo anterior, conhecer as metodologias utilizadas e as impressões das participantes? Confira a matéria do segundo PFFA Sudeste:

Agricultoras discutem organização e autonomia das mulheres 

O segundo módulo do Programa de Formação Feminismo e Agroecologia (PFFA) da região Sudeste aconteceu no Recanto São José, em Belo Horizonte. Participaram da formação aproximadamente 35 mulheres, dentre elas técnicas e agricultoras agroecológicas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e extremo Sul da Bahia.
Várias atividades fizeram parte da metodologia de trabalho do PFFA, que envolveu desde dinâmicas em grupos, até momentos lúdicos e culturais, para a facilitação da troca de conhecimentos. Foram compartilhadas as experiências das Oficinas de Multiplicação e o andamento da Caderneta Agroecológica nas comunidades das participantes. Uma das atividades de multiplicação que aconteceu abordou a temática “gênero, produção e geração de renda”, no município de Turmalina-MG, organizada pelo Centro de Agricultura Familiar Vicente Nica (CAV).  A matéria sobre a atividade se encontra no site da organização.



Os mapas da sociobiodiversidade das propriedades rurais foram aprofundados neste módulo. As participantes foram convidadas a colar adesivos referentes à participação feminina e masculina nos espaços produtivos da família. A agricultora e presidente da Associação “Flores da Terra” de Itahém (BA), Miralva Ferreira, destacou a importância da atividade: “Ficou bem claro que a mulher está à frente dos trabalhos. Os homens concentram-se nas lavouras, mas dentro de casa, a gente viu que são poucos que ajudam as companheiras. Foi importante para a gente despertar e começar a fazer mudanças na nossa casa.” A técnica do CAV de Turmalina (MG), Joelma Soares de Souza também comentou sobre o mapa: “Eu acho que a divisão sexual do trabalho ainda é muito forte. A gente percebe que as mulheres estão muito sobrecarregadas, porque as mulheres estão nos espaços ‘ditos’ dos homens, mas os homens não estão inseridos nos espaços ‘ditos’ das mulheres, principalmente nas atividades domésticas. Então traz uma mensagem muito forte para a gente de que é preciso discutir o papel do homem e da mulher na sociedade”.
Foram feitas visitas de intercâmbio em duas experiências agroecológicas urbanas que são assistidas pela Rede de Intercâmbio, de Belo Horizonte, na região conhecida como “Baixo Onça”. As visitas despertaram o interesse das participantes e contribuíram para a troca de conhecimentos entre as agricultoras. Um pouco do que aconteceu pode ser conferido através do Podcast sobre este intercâmbio agroecológico.
O "Cigarras Cantoras", coral composto por mulheres educandas de EJA, Educação de Jovens e Adultos, fez uma belíssima apresentação na noite do segundo dia de formação. Depois da apresentação, houve uma roda de conversa com as participantes, momento no qual se pode conhecer melhor a trajetória do coral e perceber identificações entre as histórias de vida das coralistas e das agricultoras do PFFA. Em seus depoimentos, algumas educandas ressaltaram a importância do coral, frente ao excesso de atividades domésticas atribuído às mulheres. Um pouco da apresentação pode ser vista no vídeo
A construção dos mapas das organizações foi uma metodologia utilizada para verificar em quais espaços e cargos as mulheres estão presentes nas instituições nas quais trabalham. Ilzete Rodrigues de Lima, do Centro Agroecológico Tamanduá (CAT) de Governador Valadares, comenta a importância deste tipo der reflexão: “Neste módulo eu achei interessante a gente estar aprofundando a questão do feminismo. No mapa das instituições verificamos quem está ocupando os cargos mais importantes e também número de participação das mulheres. A maioria dos espaços decisórios ainda está sendo coordenada pelos homens, as mulheres se concentram em cargos administrativos, na secretaria, mas não em coordenações.”
Miriam Nobre, militante da Marcha Mundial de Mulheres, comentou a tensão vivida dentro das organizações quanto ao esforço de estimular e fortalecer processos autônomos para mulheres. “Incomoda demais, nas organizações, as reuniões específicas para as mulheres. Não é só trabalhando em projetos mistos que construiremos nossa autonomia. Precisamos pensar como construímos internamente os processos, como pautamos recursos específicos para as mulheres”.
Germana Platão Rocha, agrônoma e técnica do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA), exemplificou formas naturalizadas de machismo dentro das organizações: “Já é esperado que é a mulher quem vai fazer uma intervenção questionando a presença feminina nas reuniões, porque não é lembrada a pauta sobre a mulher, por parte dos homens. A mulher só é lembrada quando é para ir para a cozinha ou para a limpeza. Quando as mulheres são convidadas, geralmente são escolhidas para sistematizar as informações das reuniões. Fica parecendo que só os homens têm o poder de falar, de representar. As mulheres ficam reprimidas com isso. Por que o homem pode viajar, mas a mulher não pode, em função dos filhos ou porque tem alguma coisa para fazer em casa?”
 Para a superação dos desafios vivenciados pelas mulheres, foram encaminhadas algumas ações a serem continuadas nos municípios das participantes entre os módulos de formação. As estratégias de preparação das oficinas de multiplicação e acompanhamento da Caderneta Agroecológica foram pensadas nos grupos de trabalho e socializadas pelas mulheres.
Quem participou do PFFA voltou para casa com ânimo renovado para avançar na construção de relações mais justas entre homens e mulheres. Maria Aparecida Lopes de Oliveira Passos, do Norte de Minas, ressalta o valor do PFFA para o povo indígena Xacriabá: “Essa formação está sendo muito importante, porque a gente está discutindo sobre o feminismo, sobre a valorização da mulher. Precisa muito desta discussão na minha comunidade. Pela nossa cultura Xacriabá, temos a educação de que só os homens podem falar e podem fazer. A voz da mulher é sempre depois da dos homens. Depois de a gente estudar muito, viajar muito e ter outras experiências com outros povos, muitas já estão convencendo os homens que as mulheres têm direitos iguais, podemos ter voz. Mesmo que eles digam não, nós podemos dizer sim. A gente está cada vez mais adquirindo experiência com outras mulheres e percebendo a importância do trabalho das agricultoras ser reconhecido, trazer de volta uma renda familiar.”
O segundo PFFA Sudeste aconteceu entre 8 e 10 de setembro, como parte das atividades do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede. Mais fotos do módulo podem ser encontradas no álbum da Formação.  O projeto tem apoio da União Européia e conta com a participação de várias organizações que trabalham com mulheres e agroecologia em todo o Brasil, são elas: Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia, Rede de Produtoras Rurais do Nordeste, Movimento de Mulheres Camponesas, GT Gênero e Agroecologia, GT Mulheres da ANA, Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas Gerais e o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM).




Nenhum comentário:

Postar um comentário