O segundo dia de intercâmbio das agricultoras familiares da Zona da Mata mineira se
iniciou com uma viagem com destino a Guapimirim. A 76 km da capital fluminense,
Guapimirim é um dos 19 municípios que compõem a região metropolitana do Rio de
Janeiro, estando localizada no sopé da Serra dos Órgãos. É um município de
caráter rururbano e faz conexões campo-cidade.
A primeira parada foi na casa da
dona Orenir da Silva, que é doceira há 20 anos. Ela vendia seus doces na beira
da estrada e agora, produzindo em casa, está satisfeita em comercializar
diretamente para as feiras, com o selo orgânico. Lá na casa dela, as agricultoras tiveram reflexões sobre a participação nas feiras agroecológicas da região
metropolitana e as relações com o poder público. E com tanta experiência e alegria, dona
Orenir, disponibilizou para as agricultoras uma oficina de doce de manga, ensinando também o método utilizado no processo de higienização das embalagens para comercialização.
Joana D'arc da Silva Escolarique, participante do Grupo Raízes da Terra e moradora do assentamento Padre Jésus em Espera Feliz, diz que cada experiência vista nos intercâmbios faz com que a bagagem volte cheia. "O que na nossa região perde, a gente poderia estar aproveitando também. Aprendemos a aproveitar tudo aquilo que a gente tem na nossa casa. Eu gostei e aprendi muito nessa oficina de doce de manga. São coisas assim que a gente aprende, ensina e leva para toda a vida."
Em seguida as participantes subiram ao terreno da
Dona Neusa, irmã da Dona Orenir. Depois de um almoço muito gostoso preparado para as representantes dos grupos produtivos da Zona da
Mata, dona Neusa contou para as mulheres as dificuldades na conquista de seu
território, e juntas discutiram sobre as lutas territoriais, a realidade local
e os desafios para avançar no acesso às políticas públicas. Em
seguida, aconteceu uma oficina ensinando como fazer doce de casca de
mamão.
Ao final da tarde, as
agricultoras foram até a sede da Associação de Produtores Rurais (AFOJO) e
conheceram os agricultores associados Anísio e Clemilda Cesário. Dialogaram sobre a criação da AFOJO e suas atuações
em feiras e no território, compartilhando todo tipo de ajuda necessária para
que as lavouras da comunidade caminhem juntas. Os agricultores explicaram que as famílias da
associação estão empenhados em criar condições de um novo modelo de fazer
negócios, partindo da experiência já acumulada com troca de receitas,
ingredientes, fabricação de caldas para a plantação e transporte para as
feiras.
O papel da mulher no manejo
agroecológico, a invisibilidade da mulher nas atividades da roça, o processamento
de produtos oriundos somente da propriedade e as feiras agroecológicas também
foram temas debatidos neste encontro. Foi ressaltado que o grupo AFOJO é formado
em sua maioria por mulheres agricultoras e doceiras, que levam para as feiras
seus alimentos e suas habilidades culinárias tradicionais. Os principais alimentos beneficiados são geleias, compotas e doces de corte, além de uma variedade de farinhas com
fins medicinais.
Finalizando as atividades do dia, as mulheres fizeram um reconhecimento do território do seu Anísio e da dona Clemilda, trocando sementes, conhecimento e alegria.
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