quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Margaridas debatem patrimônio genético, conhecimento tradicional e defesa da sociobiodiversidade em seminário da Marcha

Por Wanessa Marinho


“Mulheres em defesa da sociobiodiversidade e por acesso aos bens comuns” foi o tema de um dos seminários que integrou o primeiro dia de programação da 5ª Marcha das Margaridas. Na pauta estavam a regulamentação e implementação da Lei 13.123, que trata sobre o acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado, além do importante papel das mulheres na defesa da biodiversidade do país.

A secretária de Mulheres da CONTAG e coordenadora geral da 5ª Marcha das Margaridas, Alessandra Lunas, afirma que este debate é pauta das margaridas também por uma questão estratégica, no sentido de alinhar a militância para fazer o enfrentamento. “Essa lei impacta diretamente a vida no campo e a vida de todas as pessoas, então a gente estrategicamente traz pra cá para que as pessoas possam participar, realmente compreender o que está acontecendo e se somarem a essa luta no processo de regulamentação porque a gente precisa minimamente tentar amarrar o que não foi possível no processo de votação do Congresso”.

Uma das coordenadoras da mesa de debates, Edel Morais, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, começou a sua fala explicando que a lei já foi aprovada com alguns vetos da presidência da república, em 20 de maio, e que o texto versa sobre o acesso e a exploração econômica da biodiversidade brasileira, patrimônio da sociedade brasileira; e aos conhecimentos tradicionais associados, patrimônio dos povos indígenas, dos povos e comunidades tradicionais e dos agricultores familiares. “Trata, portanto, da relação de um lado dos usuários, as indústrias (farmacêutica, cosmética e alimentícia) e os pesquisadores; e do outro lado a coletividade que somos todos nós, os guardiões desse conhecimento”.

O projeto de lei que foi construído com pouca ou quase nenhuma participação da sociedade civil, principalmente quando ainda estava no âmbito do poder executivo, teve uma mobilização no Senado, quando os movimentos sociais conseguiram levar algumas proposições junto ao Governo.

A secretária da Biodiversidade e Floresta do Ministério do Meio Ambiente, Ana Cristina Barros, também compôs a mesa de debates do seminário e reconheceu que houve sim alguns erros no processo de tramitação. “O objetivo é regular o uso, não para proibir ou taxar tudo de biopirataria, mas para dar valor para a floresta porque se a gente quer manter o recurso natural, aquele que garante a subsistência, a água de qualidade, o extrativismo, a floresta tem que ser preservada. O que a gente quer com uma lei como essa é regular de forma justa a forma de acesso, com as empresas seguindo as nossas regras e tendo noção de que estão usando um patrimônio nacional, e garantir como os benefícios vão ser repartidos também de forma justa valorizando a biodiversidade”.

A representante da Comissão Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), Cláudia de Pinho, ponderou que nesse momento de regulamentação da lei é necessário um estudo e detalhamento por parte dos movimentos sociais para um conhecimento mais aprofundado sobre o texto e os direitos dos guardiões da sociobiodiversidade. Para tanto, serão realizadas oficinas nas cinco regiões do país, a primeira marcada para os dias 26, 27 e 28 de agosto em Rio Branco – AC. “Nós precisamos estudar pra saber que decisões devem ser tomadas e esse é o momento porque se a gente não souber dessa lei, não tem como depois reclamar ou reivindicar os nossos direitos”. 

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