Cerca de 80 pessoas da
Comunidade Córrego do Meio, de Airões – distrito de Viçosa –, se reuniram para
uma Assembleia Geral neste sábado (28/02), no Casebre Cultural e Ponto de
Memória da zona rural. A atividade aconteceu em andamento ao processo de
reconhecimento do povoado como quilombola.
Preparando-se para a
visita da Fundação Cultural Palmares (organismo que avalia e certifica os
quilombos), foram convidadas para o evento as mais de 50 famílias registradas
no documento do pedido de reconhecimento. “Cadastramos aqueles que se
declararam negros e que foram nascidos aqui, que tiveram o vovô e a vovó,
bisavós, todos nascidos nessa terra”, explicou Antônio Matias Celestino (65), o
popular Mestre-boi da Banda de Congo José Lúcio Rocha, e líder da comunidade. E
completou: “Ser considerado no papel aquilo que a gente já é vai ajudar muito.
Vai facilitar para termos acessos a programas como o ‘Minha casa, minha vida’,
o ‘Bolsa Família’ e temos a esperança de chegar outras coisas por aqui, como
umas aulas de cursinho, um mini posto policial, um posto de saúde”.
Os benefícios da
certificação quilombola extrapolam o acesso às políticas públicas, trazendo
valorização aos bens produzidos pelos moradores do local. “A gente planta
pimenta aqui e dois litros de pimenta é só R$ 2,50, trabalhamos demais para
receber esse pouquinho. Então, com o reconhecimento quilombola esperamos que as
coisas melhorem, que o nosso trabalho seja mais valorizado”, declarou a produtora
rural e beneficiária do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede do Centro de
Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA), Maria de Lourdes Mateus.
Durante o dia diversas
atividades foram realizadas para estimular os membros do Córrego do Meio a discutir
o que é ser negro, a reconhecer-se como quilombola. Uma roda de conversa,
liderada pelos mais idosos, com histórias da origem da comunidade deu início à
programação. No fim da manhã foram divulgados o rei e a rainha do Congado para
o ano de 2016 e depois todos almoçaram no quintal do casebre. Com os copinhos
de doce de mamão e canjica, ainda em mãos, já ressoavam os tambores e uma
dinâmica de roda musical abriu as atividades do período da tarde. Fez parte do
evento, a apresentação da Charola do município de São Geraldo, uma tradicional procissão
cantada que leva o andor com a imagem do Senhor dos Passos pelas casas da Zona
da Mata mineira.
Pedro Antônio da Gama
Catarino, o famoso “Seu Pedrinho”, da comunidade de remanescentes de quilombo
do bairro de Fátima, do município de Ponte Nova, participou do evento e dividiu
as experiências vividas na luta pelo autorreconhecimento do seu quilombo,
certificado em 2007. Seu Pedrinho comentou que existem diferenças entre a
comunidade dele que é urbana para a do Córrego do Meio por ser rural, mas “a
certificação como quilombola vai dar novos impulsos aos projetos desse povo.
Eles vão poder receber tecnologia para melhorar a qualidade do plantio, da
colheita, ser capacitados tecnicamente com orientação” e aponta o caminho:
“agora é preciso se organizar e conseguir o reconhecimento”.
Já começava a escurecer
quando ocorreu a sistematização das discussões do dia de trabalho e diversos
membros foram partilhando suas histórias de vida e seu orgulho de ser negro.
Atividades culturais encerraram o sábado de assembleia em Córrego do Meio. A
comunidade fará uma reunião no próximo dia 14 de março e espera-se a visita da
comissão de avaliação da Fundação Cultural Palmares até o final do mês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário