quarta-feira, 4 de março de 2015

Comunidade Córrego do Meio busca reconhecimento quilombola

Cerca de 80 pessoas da Comunidade Córrego do Meio, de Airões – distrito de Viçosa –, se reuniram para uma Assembleia Geral neste sábado (28/02), no Casebre Cultural e Ponto de Memória da zona rural. A atividade aconteceu em andamento ao processo de reconhecimento do povoado como quilombola.

Preparando-se para a visita da Fundação Cultural Palmares (organismo que avalia e certifica os quilombos), foram convidadas para o evento as mais de 50 famílias registradas no documento do pedido de reconhecimento. “Cadastramos aqueles que se declararam negros e que foram nascidos aqui, que tiveram o vovô e a vovó, bisavós, todos nascidos nessa terra”, explicou Antônio Matias Celestino (65), o popular Mestre-boi da Banda de Congo José Lúcio Rocha, e líder da comunidade. E completou: “Ser considerado no papel aquilo que a gente já é vai ajudar muito. Vai facilitar para termos acessos a programas como o ‘Minha casa, minha vida’, o ‘Bolsa Família’ e temos a esperança de chegar outras coisas por aqui, como umas aulas de cursinho, um mini posto policial, um posto de saúde”.

Os benefícios da certificação quilombola extrapolam o acesso às políticas públicas, trazendo valorização aos bens produzidos pelos moradores do local. “A gente planta pimenta aqui e dois litros de pimenta é só R$ 2,50, trabalhamos demais para receber esse pouquinho. Então, com o reconhecimento quilombola esperamos que as coisas melhorem, que o nosso trabalho seja mais valorizado”, declarou a produtora rural e beneficiária do Projeto Mulheres e Agroecologia em Rede do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA), Maria de Lourdes Mateus.

Durante o dia diversas atividades foram realizadas para estimular os membros do Córrego do Meio a discutir o que é ser negro, a reconhecer-se como quilombola. Uma roda de conversa, liderada pelos mais idosos, com histórias da origem da comunidade deu início à programação. No fim da manhã foram divulgados o rei e a rainha do Congado para o ano de 2016 e depois todos almoçaram no quintal do casebre. Com os copinhos de doce de mamão e canjica, ainda em mãos, já ressoavam os tambores e uma dinâmica de roda musical abriu as atividades do período da tarde. Fez parte do evento, a apresentação da Charola do município de São Geraldo, uma tradicional procissão cantada que leva o andor com a imagem do Senhor dos Passos pelas casas da Zona da Mata mineira.

Pedro Antônio da Gama Catarino, o famoso “Seu Pedrinho”, da comunidade de remanescentes de quilombo do bairro de Fátima, do município de Ponte Nova, participou do evento e dividiu as experiências vividas na luta pelo autorreconhecimento do seu quilombo, certificado em 2007. Seu Pedrinho comentou que existem diferenças entre a comunidade dele que é urbana para a do Córrego do Meio por ser rural, mas “a certificação como quilombola vai dar novos impulsos aos projetos desse povo. Eles vão poder receber tecnologia para melhorar a qualidade do plantio, da colheita, ser capacitados tecnicamente com orientação” e aponta o caminho: “agora é preciso se organizar e conseguir o reconhecimento”.

Já começava a escurecer quando ocorreu a sistematização das discussões do dia de trabalho e diversos membros foram partilhando suas histórias de vida e seu orgulho de ser negro. Atividades culturais encerraram o sábado de assembleia em Córrego do Meio. A comunidade fará uma reunião no próximo dia 14 de março e espera-se a visita da comissão de avaliação da Fundação Cultural Palmares até o final do mês. 

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