quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Monitoramento da Caderneta Agroecológica é apresentado em Seminário



Diante da realidade machista que predomina na agricultura e que invisibiliza o trabalhos das mulheres, o Centro de Tecnologias Alternativas (CTA) elaborou um instrumento de mensuração da renda dos quintais, conhecido como “Caderneta Agroecológica”. Durante a execução do projeto “Mulheres e Agroecologia em Rede”, o instrumento foi distribuído para mais de mil agricultoras do país e parte da sistematização dos acompanhamentos técnicos que aconteceram, entre 2014 e 2015, na Zona da Mata mineira e no Sertão do Pajeú (PE) foram apresentados em um seminário em Mário Campos-MG, nos últimos 26 e 27 de novembro.


Em Minas Gerais, 64 agricultoras de 14 municípios foram acompanhadas pelo assessor técnico do CTA, Guto Lopes. Já no nordeste, o levantamento envolveu 141 mulheres, de seis municípios, e ficou ao encargo da articuladora da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, Apolônia Gomes. Os resultados quantitativos e qualitativos do instrumento abrem precedentes para a qualificação do debate acerca das políticas públicas voltadas para as mulheres rurais, comprovando a renda gerada na produção usada para o autoconsumo, venda, trocas e doações.  
As agricultoras Maria da Conceição Caetano (dona Lia) e Márcia Donato, de Diogo de Vasconcelos-MG, participaram do seminário contando de que forma o registro da produção contribuiu para o fortalecimento dos seus trabalhos. A dona Lia relata que sempre cultivou alimentos e “se fosse comprar verdura todos os dias nem tinha como, porque somos treze pessoas em casa. Hoje a gente vê que está produzindo o próprio cardápio da gente, de uma forma saudável, sem agrotóxico”. Já a Márcia destaca que colocar preço foi fundamental para ela mesma valorizar o quintal: “tudo o que a gente produz tem um valor e antes a gente não fazia a conta dele”.
Para a pesquisadora Maria José Nogueira do grupo de pesquisa Estado, Gênero e Sociedade da Fundação João Pinheiro, a caderneta tem uma potencialidade imensa por possibilitar se pensar as relações de gênero no ambiente doméstico, a partir da escuta das mulheres. A ideia é que haja uma parceria entre as organizações para consolidar a sistematização dos dados.
A coordenadora geral de Organização Produtiva e Comercialização da Diretoria de Políticas Públicas para Mulheres Rurais e Quilombolas (DPMRQ/MDA), Michela Calaça, também elogiou a iniciativa, afirmando que “pela primeira vez, a gente vai ter um dado concreto do que sempre a gente falou no discurso e na política. Isso é chave para conseguirmos destravar algumas coisas no Estado. No que se refere a trazer o modelo agroecológico concreto, a caderneta faz isso, a partir do olhar das mulheres”.
A expectativa é que a caderneta seja aprimorada e ampliada para agricultoras das cinco regiões do Brasil e influencie a criação de políticas públicas voltadas para as mulheres rurais, em reconhecimento à dedicação delas na manutenção de uma imensa diversidade de sementes e de saberes, bem como na garantia da segurança alimentar, da saúde e da geração de renda para as famílias.

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