Equipes técnicas de entidades ligadas às
Articulações Mineira e Paulista de Agroecologia, AMA e APA, executoras de
Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Agroecologia, participaram de uma
formação, entre os dias 12 e 14/01, no Centro de Tecnologias Alternativas da
Zona da Mata (CTA). Pela primeira vez uma chamada pública de ATER
prevê o atendimento de 50% de público feminino e investimento de 30% dos
recursos em atividades específicas que ajudem a construir a autonomia das
agricultoras. Por isso, além de abordagens teórica e prática sobre agricultura
familiar, os agentes debateram feminismo e superação das desigualdades de
gênero no campo.
O engenheiro agrônomo e consultor do Departamento de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(Dater/MDA), Sergio Biron, explica que houve uma mudança no perfil dos técnicos
selecionados para atuar no campo e, por isso, a formação é indispensável para
quem vai executar as chamadas. Se antes era comum uma postura de
difusão de tecnologias por parte dos agentes, hoje é necessário conciliar o
saber popular dos agricultores com o conhecimento científico: “A Política
Nacional de ATER prevê que a relação com os agricultores familiares deve ser
uma relação participativa, dialógica e utilizando metodologias construtivistas.
Como a maioria dos profissionais que atua no campo não pensa essa formação
educacional, é importante que haja esses momentos de formação”.
O modelo de formação escolhido pelas instituições ligadas à AMA faz
parte de uma estratégia metodológica desenvolvida por redes de agroecologia que
prestam ATER em território nacional. Além da discussão teórica, nesta
capacitação, dinâmicas simularam algumas ferramentas que serão utilizadas no
projeto. O engenheiro agrônomo e técnico do CTA, Eugênio Resende, avalia
positivamente o modelo: “A gente conseguiu reunir mais de 30 pessoas, nivelar
as informações e trocar experiências entre as entidades. O que fortalece a
agroecologia não só a nível sudeste, mas em todo Brasil”.
As expectativas são grandes por parte de quem se prepara para executar a
chamada. Marcos Jota, da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas,
acredita no fortalecimento da agricultura familiar na região metropolitana de
Belo Horizonte. Segundo o engenheiro agrônomo, esta “é uma oportunidade de
criar uma frente de resistência para comunidades tradicionais que estão ameaçadas
por causa da mineração, da especulação imobiliária, pelo crescimento da cidade
mesmo”.
Revelando desigualdades de gênero no campo
As chamadas de ATER Agroecologia vêm corrigir um erro histórico, uma vez
que, no Brasil, a agricultura familiar nunca foi privilegiada nos projetos de
desenvolvimento. Além de favorecer a sustentabilidade da vida, por meio da
transição agroecológica dos territórios, as chamadas têm o potencial de revelar
e ajudar a desconstruir desigualdades de gênero que ainda persistem no campo.
A sobrecarga de tarefas e a desvalorização do
trabalho das mulheres serão estudadas. Uma das ferramentas, presentes na
caracterização das unidades produtivas, busca compreender como é a rotina de
vida e de produção da família agricultora. Com base em uma proposta
metodológica da pesquisadora chilena Cristina Carrasco, será possível evidenciar
como a divisão sexual do trabalho está presente no campo e quais as atividades
são feitas e qual o tempo gasto por homens e por mulheres.
Visibilizar as atividades essenciais para o funcionamento das unidades
produtivas e que não geram renda monetária, assumidas predominantemente pelas
mulheres, e refletir sobre o envolvimento de toda a família nas atividades
domésticas serão algumas das contribuições do projeto.
Muito trabalho pela frente
As organizações da
AMA que vão executar a chamada são: o Centro de Tecnologias Alternativas da
Zona da Mata (CTA), o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
(CAA), o Centro Agroecológico Tamanduá (CAT) e a Rede de Intercâmbio de
Tecnologias Alternativas que atua na Região Metropolitana de Belo Horizonte e
no Leste de Minas. Entidades da Articulação Paulista de Agroecologia (APA)
estão em formação conjunta com a AMA.
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