8 DE MARÇO Com mais de 2 mil participantes,
ato demonstrou unidade entre movimentos
Com
uma beleza sem padrões e de parar, literalmente, o trânsito de Belo Horizonte. Foi
assim que cerca de 2 mil feministas fizeram um ato pacífico na capital mineira
na última terça (8). Mais de 40 centrais, federações e movimentos sociais do
campo e da cidade estiveram presentes. Com o lema “Mulheres contra a lama que
violenta e mata”, a manifestação rompeu com o sentimentalismo do 8 de Março e demonstrou
o caráter de luta da data.
A
crítica ao atual modelo de desenvolvimento do Estado, e suas perversas
consequências para a vida das mulheres, foi central na passeata
política e cultural que se iniciou na Praça da Liberdade e se encerrou na Praça
da Estação, com shows e apresentações artísticas.
Segundo
Bernadete Esperança da Marcha Mundial das Mulheres a principal mensagem transmitida
pelas integrantes é que é necessário rever o projeto minerário no Brasil. “Sabemos
que a mineração é um elemento importante para o nosso desenvolvimento, mas ela
tem que ser pactuada com o povo, em benefício do povo e não das empresas que
lucram explorando nossas vidas e nosso território”, afirma.
Como parte do percurso, as
manifestantes promoveram um ato de repúdio ao crime socioambiental ocorrido em
Mariana. Em frente ao escritório da Vale, uma das acionistas da empresa Samarco
– responsável pelo rompimento das barragens – despejaram lama proveniente do Rio
Doce. “Vale, quanto vale a vida?”, gritavam em coro. Com cartazes e faixas, as
mulheres lembraram de outros projetos de mineração que ameaçam as comunidades e
seus recursos naturais, bem como a ofensiva das monoculturas e o uso intensivo
de venenos agrícolas.
Ato
demonstra unidade
Liliam
Telles, representante do Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de
Agroecologia, avalia que, apesar das dificuldades enfrentadas, inclusive por
conta do machismo institucional das organizações, o ato cumpriu a expectativa
de mostrar a força das mulheres do campo, ali representadas pelas agricultoras
familiares, indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. “Foi
surpreendente a capacidade de construção de aliança com as mulheres da cidade,
o que aumenta a vontade da gente fazer uma ação ainda maior no ano que vem”,
comenta.
Reivindicações
Durante
a caminhada, músicas e gritos de ordem lembravam as desigualdades de gênero que
persistem no país, por exemplo, as duplas e triplas jornadas de trabalho
femininas, devido à responsabilização exclusiva das mulheres pelo trabalho
doméstico e de cuidados com a família. A diferença salarial entre homens e
mulheres em cargos com mesma função, a sub-representação política e as
múltiplas formas de violências também foram criticadas.
Em documento entregue ao governo
estadual as envolvidas cobraram maior acesso a creches e à educação infantil
para os filhos; direito aos territórios; direitos sexuais e reprodutivos;
políticas públicas de saúde, educação e saneamento para as mulheres do campo e
da cidade; e o fim da tarifa de energia mais cara do Brasil. Além disso,
reivindicaram a aprovação da política estadual de atendimento às famílias
atingidas por barragens e outros empreendimentos; a assinatura imediata do
decreto de desapropriação da área da fazenda Aradinópolis e a suspensão
do despejo marcado para o dia 10 de março deste ano.
As trabalhadoras reafirmaram
ainda a unidade no enfrentamento ao conservadorismo e na defesa da
democracia.
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