quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Lançamento de livro e filme sobre mulheres e agroecologia acontece durante Assembleia do CTA



Na noite da última quinta-feira (22), foram apresentados ao público da Zona da Mata mineira o livro "Mulheres e Agroecologia, transformando o campo, as florestas e as pessoas", de Emma Siliprandi, e o documentário "As Sementes" dirigido por Beto Novaes. A atividade, realizada na Universidade Federal de Viçosa, fez parte da programação da Assembleia Geral do Centro de Tecnologias Alternativas (CTA) e contou com a presença de agricultores sócios, colaboradores e técnicos da ONG, além de representantes do poder público local e estadual e membros da comunidade estudantil e viçosense .
As obras retratam o protagonismo das mulheres na construção da agroecologia e se desdobraram da tese de doutorado de Emma Siliprandi, defendida em 2009. Os estudos deram voz às agricultoras lideranças do movimento no Brasil afora, dentre elas a Efigênia Tereza Marco, a “Fifi” de Acaiaca-MG, que é atendida pelo CTA. Fifi conta que ficou muito feliz, pois é um reconhecimento não só do trabalho dela, mas “da agroecologia e da luta que as mulheres travam. A gente não está na roça como quem está sofrendo, pelo contrário, nós temos nossos desafios, mas estamos felizes no que fazemos”.
Beth Cardoso, técnica do CTA e coordenadora do GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia, diz ter se emocionado ao escutar as perspectivas positivas do movimento serem ressaltadas pelas agricultoras, já que no filme sobressaem o enorme potencial de superação e o protagonismo das entrevistadas. “Para falarem daquela forma no vídeo e serem lideranças, cada uma dessas mulheres passou por muita coisa na vida e precisou romper as barreiras do espaço privado. Vê-las falando da construção do projeto de agroecologia, do valor do trabalho e da produção, da felicidade que sentem com o que fazem, faz o vídeo bem especial”.
Além deste espaço de divulgação, outras iniciativas de ampliação dos debates acerca da participação feminina no campo agroecológico estão sendo criadas, inclusive nas escolas. Fifi relata que o livro e o filme foram solicitados por  alguns professores da rede pública de Acaiaca e que está sendo agendada uma visita a unidade produtiva da família para que os estudantes conheçam, na prática, a realidade lá vivenciada. Iniciativas para que mais e mais pessoas descubram e se deixem transformar pela agroecologia e pelo feminismo. 
Fotos: Isaac Barbosa e Rodrigo Carvalho.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Protagonismo de mulheres rurais é retratado em documentário



Acorda “antes do sol e das galinhas”, faz o café e o almoço que o marido leva para a lavoura, prepara homeopatias, cuida das plantas, do quintal e das pequenas criações, varre a casa, lava roupa, tudo isso antes das nove da manhã. Hora costumeira em que também vai para o roçado. Com o ritmo de vida acelerado e o excesso de atividades domésticas, Armezinda da Silva Firmino transpõe o privado e atua ativamente na vida em comunidade. Dá aula de catequese, é Ministra da Palavra e da Eucaristia, coordenadora do grupo produtivo “Raízes da Terra”, agente missionária, coordenadora do dízimo e contribui na limpeza da igreja.
Depois de travar lutas de convencimento, com a própria família, sobre a importância de ler e escrever, Armezinda completou o 2º grau e hoje também é professora de alfabetização de adultos. A agricultora familiar é participante do Mulheres e Agroecologia em Rede e uma das quatro personagens escolhidas para o documentário do projeto que foi gravado, entre 7 e 14/10, em Acaiaca, Divino e Espera Feliz, na Zona da Mata mineira. Visibilizar a infinidade de atividades que faz parte da rotina da Armezinda e de milhares de mulheres rurais, e que muitas vezes não é reconhecida e valorada, é o objetivo do trabalho, que está aos cuidados da produtora Formosa Filmes.

O diretor Tiago Carvalho avalia que o material filmado é rico, em virtude da enorme diversidade de funções que as mulheres exercem dentro e fora de casa, e deve refletir o cotidiano das entrevistadas. Para ele, o entendimento de como o protagonismo das agricultoras acontece e de quais as resistências são construídas no ambiente doméstico, na comunidade e nas organizações foi possível “observando atenta e discretamente um pouco da vida delas e ouvindo sobre como elas se veem, como veem as trajetórias e contam suas histórias. Sempre têm os conflitos, mesmo que eles apareçam muito discretamente”. 


Solange Peron, Maria Eliete Rufino e Maria da Conceição Caetano são as outras agricultoras que participam do curta-metragem, representando da luta das mulheres rurais no Brasil. A expectativa é que o documentário contribua no fortalecimento do debate feminista no campo agroecológico, trazendo luz às desigualdades de gênero que ainda persistem e à força das agricultoras, sobretudo, a partir da auto-organização nos territórios em que vivem.

sábado, 3 de outubro de 2015

Movimento de Mulheres se reúne em Caparaó

A beleza da primavera, impressa no jardim da dona Aparecida Ferreira da Silva e do seu Francisco Júlio da Silva (mais conhecido como ‘seu Chiquinho’), acolheu as representantes do Movimento de Mulheres da Zona da Mata e Leste de Minas (MMZML) que se reuniram em Caparaó, nos dias 29 e 30/09. Além de discutir e encaminhar pautas importantes para o fortalecimento da articulação, que hoje abrange 15 municípios, as agricultoras desfrutaram as riquezas da prática agroecológica local, bem com conheceram um pouco a história dos anfitriões, casados há 32 anos e com quatro filhos.
Na programação do encontro, ganharam espaço a socialização das atividades em andamento nos municípios, a avaliação do Movimento e o planejamento das ações a serem executadas. Também foram discutidos os desafios vivenciados nos grupos de mulheres, perante a conjuntura política, e a organização dos trabalhos, que está em curso, a partir estruturação das unidades produtivas, do monitoramento e da capacitação dos grupos atendidos pelo Centro de Tecnologias Alternativas (CTA).
Para a agricultora familiar e articuladora do MMZML, Sônia Aparecida de Sousa, que recentemente deu à luz ao seu terceiro filho, o encontro veio fortalecer o compromisso com o coletivo. “Muitas vezes as mulheres falam que é difícil sair com menino pequeno e eu estou vivenciando isso. Eu cogitei até não voltar, a ficar mais em casa. Por outro lado, não podia me acomodar nesse momento. Tenho o maior orgulho de ter criado meus dois filhos de uma maneira diferente e o Matheus já vai começar ainda mais novo a participar”, conta Sônia.
“É um desafio novo. A maternidade mexe muito com a gente, é uma força que vem de dentro. Eu tenho o compromisso de permanecer para ajudar outras mulheres que estão na mesma situação a terem persistência de participar”, Sônia Aparecida de Sousa.

Dona Aparecida diz ter sido “um prazer imenso receber as mulheres” e destaca a importância da exibição do documentário “As sementes”, dirigido por Beto Novaes. “Muitas coisas que, às vezes, ficam presas dentro da gente, o filme mostrou. A gente tem como expandir muito mais do que a gente é... A gente tem muito a viver”. Já o seu Chiquinho, que também é presidente do Sintraf de Caparaó, ensinou, com solicitude, a fazer receita de sabão líquido e chá de ‘Paratudo’. Como ele diz: “se a gente não partilhar o que sabe, não tem sentido saber. No dia que morrer, não deixou nada para ninguém da experiência do que fez”.

O encontro foi encerrado com passos concretos a serem dados no fortalecimento e ampliação da articulação regional, com a construção de seminários e encontros junto às agricultoras e aos parceiros do Movimento. As participantes saíram reanimadas pela certeza de que a chuva, há tempos esperada e que caiu, veio germinar as sementes de vida e de luta que elas têm lançado.