Marli
Estevão da Silva Santos e Marlene Nicolau da Silva Chagas são irmãs e moram na
zona rural do município de Acaiaca na comunidade do Maracujá. Apesar de terem casas separadas, por serem
duas famílias, elas residem no mesmo terreno e compartilham a área para
cultivo, bem como os afazeres da lida com a terra.
Segundo
Marli, elas já praticavam a agroecologia muito antes de conhecerem o termo e o
conceito, pois aprenderam a cultivar com os pais de uma maneira que respeitasse
o meio ambiente. Apesar dos conhecimentos de agricultura do pai, elas confessam
que já utilizaram técnicas equivocadas em suas lavouras e cultivos. Por exemplo, o uso de fogo para roçar,
técnica comum de se observar no meio rural. Com o passar do tempo, descobriram
os malefícios do uso do fogo e as desvantagens que a técnica pode trazer à
fertilidade do solo.
Nos
anos 80, as irmãs foram morar em São Paulo, em busca de oportunidades de
trabalho, onde permaneceram por alguns anos. Porém, não se adaptaram a
realidade das cidades e logo regressaram à roça. Assim que retornaram a sua
propriedade já começaram a trabalhar novamente com a horta de maneira
agroecológica.
Elas
se filiaram ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais o que possibilitou participar
de cursos de capacitação e formação. Também conheceram o Centro de Tecnologias
Alternativas da Zona da Mata (CTAZM), organização que trabalha com agricultura
familiar e agroecologia na região. A
partir dessas aproximações elas se juntaram ao movimento agroecológico e também
começaram a participar do projeto Mulheres e Agroecologia em Rede.
Já
faz 17 anos que as irmãs Marli e Marlene trabalham com agroecologia. Elas
apostaram na diversidade, produzindo muitas variedades de hortaliças, grãos e
legumes, que são comercializados na comunidade do Maracujá, nas feiras livres
de Acaiaca, para a Associação de Artesãos e Produtores Rurais de Acaiaca
(AAPRA), também entregam para o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE).
Elas
mesmas cuidam da horta e da lavoura, e os filhos ajudam em outras tarefas, como
a abertura de covas, preparação do solo e adubação. Além dessas atividades, Marlene ainda prepara
quitandas como roscas, broas e pães também para comercialização.
Em
relação ao trato agroecológico da horta, as irmãs confirmam que a opção foi
acertada, já que reduziram os custos com insumos, produzindo alimentos mais
saudáveis e aumentando a qualidade de vida da família. Elas ainda explicam como
trabalham: “o chuchu sempre produz muito, assim eu retiro o quero comer em
casa, separo o que vai para a venda e o que sobra damos para as galinhas, o que
economiza e muito no milho para as galinhas”.
As
irmãs também enfatizaram a maneira como lidam com as pragas que aparecem de vez
em quando em seus cultivos: “quando aparecem bichos e doenças em nossas
plantas, primeiro observamos o comportamento delas, depois produzimos caldas
naturais ou agroecológicas, muitas vezes utilizando os próprios insetos na
mistura”. Elas também produzem seus próprios biofertilizantes que têm dado
grandes resultados na produção de milho, que este ano desenvolveu mais,
produziu espigas maiores e sem brocas.
Toda a produção das irmãs é feita a partir do uso de sementes crioulas.
Para
as irmãs Marli e Marlene o maior benefício de se trabalhar agroecologicamente,
respeitando o meio ambiente e sem uso de agrotóxicos, é o ganho na qualidade de
vida e saúde. Porém ressaltam que esses não são os únicos benefícios, já que
como agricultoras elas produzem quase tudo o que comem dessa forma, o gasto com
supermercado é quase inexistente.
“Hoje
a gente só compra arroz, antigamente a gente plantava arroz também, mas os
brejos secaram e ninguém mais quer trabalhar pesado, risos!”
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