quarta-feira, 9 de março de 2016

Mulheres ocupam ruas de Belo Horizonte em busca de direitos



8 DE MARÇO Com mais de 2 mil participantes, ato demonstrou unidade entre movimentos 


Com uma beleza sem padrões e de parar, literalmente, o trânsito de Belo Horizonte. Foi assim que cerca de 2 mil feministas fizeram um ato pacífico na capital mineira na última terça (8). Mais de 40 centrais, federações e movimentos sociais do campo e da cidade estiveram presentes. Com o lema “Mulheres contra a lama que violenta e mata”, a manifestação rompeu com o sentimentalismo do 8 de Março e demonstrou o caráter de luta da data.
A crítica ao atual modelo de desenvolvimento do Estado, e suas perversas consequências para a vida das mulheres, foi central na passeata política e cultural que se iniciou na Praça da Liberdade e se encerrou na Praça da Estação, com shows e apresentações artísticas.
Segundo Bernadete Esperança da Marcha Mundial das Mulheres a principal mensagem transmitida pelas integrantes é que é necessário rever o projeto minerário no Brasil. “Sabemos que a mineração é um elemento importante para o nosso desenvolvimento, mas ela tem que ser pactuada com o povo, em benefício do povo e não das empresas que lucram explorando nossas vidas e nosso território”, afirma.
            Como parte do percurso, as manifestantes promoveram um ato de repúdio ao crime socioambiental ocorrido em Mariana. Em frente ao escritório da Vale, uma das acionistas da empresa Samarco – responsável pelo rompimento das barragens – despejaram lama proveniente do Rio Doce. “Vale, quanto vale a vida?”, gritavam em coro. Com cartazes e faixas, as mulheres lembraram de outros projetos de mineração que ameaçam as comunidades e seus recursos naturais, bem como a ofensiva das monoculturas e o uso intensivo de venenos agrícolas.

            Ato demonstra unidade
Liliam Telles, representante do Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia, avalia que, apesar das dificuldades enfrentadas, inclusive por conta do machismo institucional das organizações, o ato cumpriu a expectativa de mostrar a força das mulheres do campo, ali representadas pelas agricultoras familiares, indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. “Foi surpreendente a capacidade de construção de aliança com as mulheres da cidade, o que aumenta a vontade da gente fazer uma ação ainda maior no ano que vem”, comenta. 


Reivindicações
Durante a caminhada, músicas e gritos de ordem lembravam as desigualdades de gênero que persistem no país, por exemplo, as duplas e triplas jornadas de trabalho femininas, devido à responsabilização exclusiva das mulheres pelo trabalho doméstico e de cuidados com a família. A diferença salarial entre homens e mulheres em cargos com mesma função, a sub-representação política e as múltiplas formas de violências também foram criticadas.
Em documento entregue ao governo estadual as envolvidas cobraram maior acesso a creches e à educação infantil para os filhos; direito aos territórios; direitos sexuais e reprodutivos; políticas públicas de saúde, educação e saneamento para as mulheres do campo e da cidade; e o fim da tarifa de energia mais cara do Brasil. Além disso, reivindicaram a aprovação da política estadual de atendimento às famílias atingidas por barragens e outros empreendimentos; a assinatura imediata do decreto de desapropriação da área da fazenda Aradinópolis  e a suspensão do despejo marcado para o dia 10 de março deste ano.
As trabalhadoras reafirmaram ainda a unidade no enfrentamento ao conservadorismo e na defesa da democracia.


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